25.11.06

borracha aflita

a rua tava entupida de carro a pampa
que ânsia nesse olhar que mira à distância
minhas entranhas têm cheiro de óleo
óleo que permite o amor da máquina
movimento lascivo da engrenagem
enroscar-se todo erótico da máquina
eu só queria deixar de ser engrenagem

a distância dança sobre o asfalto tão quente
passar pela roleta é guerra velada
o ar abafado sufoca a todos
olhares maçados uns dos outros
tanto calor é o fim-da-picada
o trânsito parado sufoca a todos
um barulho seco projeta-se no ar

caralho! o ônibus atropelou o cara
entre horrores e gritos a massa salta
o nada assalta entre horrores e gritos
quase engulo meu chiclete a seco
evito aquela visão tão terrível
agora ele deixou de ser engrenagem
sigo o caminho oposto ao da massa tão sádica

o chiclete já não tinha gosto nenhum
a borracha insossa não tinha sentido
caralho! o cara foi atropelado
retiro ela da boca entre os dedos
encaminho minha mão pra lixeira
a borracha aflita logo gruda em mim
aquela insistência me deixa embaraçado

ela gruda mais na medida em que eu rejeito
a mão já tava toda comprometida
não sabia como me livrar dela
a outra mão tentou intervir
a borracha aflita quis grudar nela
aquela insistência já era ridícula
enfiei a mão no bolso pra disfarçar

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

mão no bolso pra desfraçar...rsrsrs muito bom, aflição!

20:09  
Anonymous Anônimo said...

muito bom mesmo!!

22:51  

Postar um comentário