26.9.07

Contraste, Brilho e Nitidez

"What i like and what i need are two different things"

Adoramos quando um amigo ou parente,
nos consegue aquela providencial vaga
em uma empresa, mas quando algo
do tipo ocorre na política é incompreensível.
Adoramos desculpas para faltar ao trabalho,
greves e feriados emendados,
porém quando é para nós o serviço
a ser prestado é inadmissível o adiamento.
Achamos ótimo quando o policial é compreensivo,
ou ate mesmo corruptível, frente aos nossos irrisórios
delitos cotidianos, mas quando o mesmo
recebe propina de traficantes é obsceno.
Adoramos e aplaudimos a caça aos bandidos, tratados com a
maior violência possível, como no episódio do ônibus 174,
mas quando as vítimas são civis, é injustificável.
Admiramos a beleza, a criatividade e pureza das
crianças mas quando são subnutridas, ignorantes,
desesperadas e armadas, todos detestam saber o porque.
Adoramos pensar que o legal é ter coragem, sacrificar-se
pelo justo, mas somente quando isso não inclui riscos
aparentes à nossa magnífica e sagrada individualidade.
Adoramos reconhecer nossa boçalidade e tendência
ao rídiculo interpretadas em palco,
mas fora do teatro, ego algum permite admitir.
Adoramos saber fofocas dos outros
mas quando é a nossa vida na roda, é condenável.
Adoramos quando temos o privilégio de passar por filas,
mas quando somos os que ficam para trás, é inexplicável.
Adoramos dizer que a culpa é "deles",
mas detestamos saber que é "nossa" responsabilidade.
Adoramos a idéia do faça o que eu digo e não o que faço
mas quando é o outro exercendo esse ponto
de vista ambíguo torna-se logo detestável.
Adoramos a idéia de progresso constante em nome do conforto,
mesmo que os meios justifiquem o ("nosso") fim.
O homem adora ver belas mulheres, em minúsculos trajes,
mas quando é a própria filha, inaceitável!
(talvez quando aceite, é que se torne civilizado)
Adoramos fazer um fézinha, rezar, apelar, suplicar à Deus
mas na teoria: "graças a deus, sou ateu".
Adoramos o céu azul, o sol forte, o trânsito livre,
mas detestamos aqueles índicios d'outras realidades,
espalhadas pelo caminho.
Adoramos idéias de perfeita beleza e função
mas detestamos nossas lamentáveis limitações.
Adoramos a idéia de persuadir outros
mas detestamos sermos vítimas da indução
Adoramos realizar grandes feitos em conjunto
mas detestamos dividir os ganhos.
Adoramos a idéia do direito adquirido
e detestamos a idéia de deveres imprescindíveis.
Adoramos a idéia de democracia, mesmo que seja só mais uma
fachada para manter nosso atemporal regime de hipocrisia.

17.9.07

Um poema: memória. Cartões-postais.
Inspirado no Epílogo do poema "Luvas de Pelica",
de Ana Cristina César. Essa mulher...


10.9.07

ah

Tão fácil seria o amor
se a sutil necessidade
não fosse este desejo
de romper, escapar e irromper
constatação que preside vários medos

Se o desejo e tédio assim não fossem
furiosa ânsia manifesta, eu iria
libertar-me de minha vida emoldurada
reinventar-me numa vida que não esta

Se a beleza do corpo não fosse tão difícil
tão fácil seria o amor, não fossem
nossas almas desde criança exiladas
subjulgadas por egos infla(ma)dos

Que mesmo em momentos de vontade pura
seja por medo ou teimosia
pensar em irrestrita anistia
é insensatez ou loucura
mas tão fácil o amor seria...