26.1.07

.A Tartaruga. (poesia lema-hino-reza de minha viagem)

Desde a tartaruga nada não era veloz.
Depois é que veio o forde 22
E o asa-dura (máquina avoadora que imita os
pássaros, e tem por alcunha avião).
Não atinei até agora por que é preciso andar tão
depressa.
Até há quem tenha cisma com a lesma porque ela
anda muito depressa.
Eu tenho.
A gente só chega ao fim quando o fim chega!
Então pra que atropelar?

[mané de barro]
.Poema.

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que
eu sei.
Meu fado é de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

[mané de barro]
.A Disfunção.

Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de
a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso
trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa
disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1- Aceitação da inércia para dar movimento às
palavras.
2- Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3- Percepções de contiguidades anômalas entre
verbos e palavras.
4- Gostar de fazer casamentos incestuosos entre
palavras.
5- Amor por seres desimportantes tanto como pelas
coisas desimportantes.
6- Mania de dar formato de canto às asperezas de
uma pedra.
7- Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais
importância aos passarinhos do que aos senadores.

[mané de barro]

22.1.07

domingo

18.1.07

fuga

"costumo comparecer aos
meus próprios desencontros"
no reverso da velocidade da luz

é pelas ruas que percebo
e vejo até beleza
nos estranhos radicais
paradoxando confusões

minha mente irredutível
cansada de tantas resiliências
ao estilo de sísifo
já não sabe mais o que esperar

a vida toma valor do nada
na medida de que nós a negamos
sendo a sincronicidade ao que tudo
indica, chave para o fim da agonia

mas o tempo começa
e acaba. o tempo todo.
cadê a cavalaria?
já se perdeu, ou se esqueceu!

se voltar será somente para
atropelar por minhas próprias
avenidas, tudo o que construí

unir visão/conceito
imagem/signo
sintaxe/semântica
não me serve de nada

o futuro continua
imprevisível, isento
em voraz conceituação
com o tempo presente

só me resta torcer
para encontrar paz
mesmo que inventada
numa realidade diferente

"O que verdadeiramente somos é
aquilo que o impossível cria em nós"

16.1.07

seugndo pseqiusas reecntes
não imoprta a odrem das lertas em uma paalvra
dsede que a pirmeria e a ultmia estjeam no luagr.
itso se dvee ao ftao de que a mnete huamna
não lê as lertas seapardmente
e sim a paalvra cmoo um tdoo.

8.1.07

dois reisados do dia primeiro na cidade de Juazeiro do Norte (Ceará)


notícias da terra da mãe de deus

posto agora um pedaço de meu extenso diário de viagem. são fragmentos, anedotas de coisas que aconteceram e que podem transmitir um pouco do quanto é espirituoso o nordestino, ou simplesmente passar sensações que tenho tido. tá dando problema, então foto mesmo vai na próxima.

O entardecer no juazeiro

É curioso como o entardecer daqui é diferente. A altura talvez seja uma diferença; o Rio é tão distante do céu... As ruas sujas desse interior lembram a cidade de Niterói. O vento da tarde que carrega chuva é de agora. Mas o roxo do céu, a formação das nuvens, a quantidade de estrelas que se vê na linha do equador, um moto-taxi ligeiro, as feiras permanentes se desarmando, o calor e as faces endurecidas das pessoas, talhadas em pau de imburana, o cheiro e a sensação de caminhão, de pé na estrada, de final de filme a la “o dragão da maldade contra o santo guerreiro”, o suor incrustado em nossa pele, um fedor bom, uma certa inocência e uma sentimento leve, de volta no tempo, tudo colabora para uma singularidade com gosto de suor. Tudo roxo, nem rosa nem verde, nada de vermelho-poluição, só roxo por detrás de nuvens hiper-definidas, destas de quadros sacros. Nada mais a dizer.

A casa de pau-a-pique e o avião

Seu João estava na casa da carroça dos mamulengos, quando apareceu aqui um piloto de avião. Ou então João viajava para o Rio de Janeiro de avião junto à trupe da carroça. De qualquer maneira ele comentou com Antonio acerca do quanto seria difícil pilotar uma máquina daquelas, um Boeing ou mesmo um aeroplano que seja. Antonio pensou um pouco e respondeu que também era muito difícil, principalmente para um piloto de avião que vive na cidade como aquele devia viver, construir uma casa de pau-a-pique como fazia seu João. Ele realmente era conhecido por suas casas simples e fortes, construídas com uma força e rapidez inigualáveis. João franziu a testa, e não se demorou a responder: “É claro que não, Antonio! Se o cabra pilota essa máquina é claro que sabe construir uma casinha como a minha!”.

As bandas de forró brega

Pra montar uma banda de forró brega basta seguir uma receita. Deve-se primeiro ter uma dupla que crie (ou não necessariamente) músicas mastigáveis por qualquer banguela. Depois é buscar um empresário que agregue ao grupo duas mulheres dançarinas, que rebolam a beça e dançam de tudo menos forró, pois aquilo, na verdade, é o samba do crioulo doido. Com relação ao nome há varias variantes, no entanto há pouca exceção à regra do substantivo composto, das combinações sexuais e da presença da palavra “forró”: calcinha preta, cheiro de menina, gaviões do forró, aviões do forró, forró sacode, saia rodada, rabo de sereia, índios do forró, índios dos teclados, índio e sua tribo, baby som, cobras do forró, gatinha manhosa, nodoa de cajú, loira do forró, solteirões do forró, cachorro da muléstia, pau de balançar, chibata preta, mel com terra, mastruz com leite, caviar com rapadura.
Agora é a hora de vestir o quarteto com roupas as mais bregas possíveis e com os menores custos, pouco tecido e uma cor só, de preferência todas brancas ou todas negras. Aliás, os homens devem ter cabelos pretos e as mulheres loiros. Depois é só gravar o CD nalguma pequena gravadora ou de maneira independente (Calipso, por exemplo, é totalmente independente), que terá pouco mais de trinta minutos a serem degustados. Partimos então em viagem, e pra isso não deve faltar um ônibus com vidros fumê, com o nome do grupo naquele estilo de letra de assinatura chique, e, finalmente, com a cara em grande escala do quarteto nos três lados do veículo. Está pronta a receita.

Bêbados em funeral

Na cidade de Itapipoca, no interior do Ceará, as pessoas desocupadas, pra variar, gastavam seu tempo bebendo cachaça no ponto de boemia da cidadezinha. De repente surgiu, ao lado do bar que fica aberto até altas horas, uma funerária, de maneira que todas as vezes que os bêbados saiam do bar a segurar-se uns nos outros, acabavam por tecer comentários um tanto mórbidos. Um ficava medindo o outro com o caixão da vitrine e dizendo, “vixe! Não serve não!”. Outro se desmanchava em prantos pensando em seus avós, “tadinho dos meus avós! A funerária cobrou tanto deles...”. Outro ainda, ficava desesperado e começava a berrar correndo. Dizia que não queria morrer e desaparecia pela escuridão desalumiada. Realmente, bar e funerária não é lá uma boa combinação.

Os orelhões de Padim Ciço

Se andarmos por dois minutos pela cidade do Juazeiro do Norte logo perceberemos o quão diferente são os orelhões das esquinas com relação aos habituais de todo o Brasil. Aqui eles têm o formato de um chapéu preto, que bem parece com aqueles de aço que encontramos nas fotos da Primeira Guerra Mundial, e são elevados por uma barra de ferro com forma de bengala. São, pois, as marcas do vestuário do Padre Cícero, fundador e santo protetor da cidade.
Na realidade este modelito telefônico não foi idéia da secretaria de turismo, mas um baque que deu no prefeito enquanto este ia pra cama. As depredações dos orelhões se multiplicavam pela cidade e ninguém conseguia dar resposta a algo que tirava tanta verba dos bolsos da prefeitura. Daí o senhor prefeito ficou lá, matutando uma idéia que desse solução a este problema de primeira importância. Havia acabado de comer seu prato predileto, lombo de porco com abacaxi, bem chique assim, coisa de natal, quando, já deitado, ajeitando seu travesseiro de penas de cisne, veio a imagem de supetão: uma bengala que segurava o chapéu, um telefone diferente, que arrematasse de uma só vez dois problemas: ninguém mais depredaria os orelhões ao mesmo que a sujeira dos mesmos não mais se perceberia em meio ao negrume do vestuário.

5.1.07

...

I'd be more cynical, but I can't keep up.

2.1.07