29.11.06

Seu silencio me fez som

Não há nada que eu possa fazer
Pra deixar de sentir. (as melodias)
No seu mundo todo, tudo, hoje me espreme!
E fui outra coisa apenas, num feio poema (quando o beijo acabou).
Eu divago num infinito só meu, me perco, e me percorro.
Não quero mais saber de permanecer em versos (os seus).
Só se for no escuro, perplexo pela falta de luz.
Nele, me sinto repleto, completo, de absolutamente nada.
Intrigado pelo vazio que me causa, eu duvido, e me repenso.
Achando que eu que criei o silencio, me discordo. Foi o seu que me fez, num imenso passo pru som.

27.11.06

.Esse cheiro me dá sede!.


potencial
desperdiçado
eu
e todos aqui
aglomerados

pois fique bem
ilustrado
que um ritmo
conivente

volve tudo
igualmente
até sobras
da equação

com porques
ou um senão
em variações
esdrúxulas

o entendimento
empaca nas
mudanças
que assustam

fantasiado
de suposta
decência
o orgulho

quer sim
dizendo que não!

o cansaço
cobre os rastros
conduz o medo
de aprender

inevitável, assim
o prévio descaso

será que

é que se vê?

faço que não faço
disfarço
antes que possam
perceber

26.11.06

Ônibus passam e velhinhas ficam. Todo mundo fazendo sinal e o motorista nem aí, enfiando o pé no acelerador que range. A poeira sobe.
No rio de janeiro as pessoas se olham como em nenhum outro lugar. Quando alguém entra no ônibus todos se viram e pensam “olha esse aí com cabelão”, ou, “quero ver se essa velhinha agüenta dois passos sem que o tranco jogue ela no chão”, e fica torcendo pra que caia, e assim por diante. Agora então, com essa catraca na frente, todos têm bastante tempo pra observar antes que o cobrador libere a roleta. Olhos abertos.
O sol faz dos cariocas fantasmas. Sem conseguir pensar todos vagueiam por Copacabana. "Tudo sob o sol é vaidade e vento que passa". Lençóis brancos dependurados, lençóis que voam. No buzú o sol fica de um lado e os passageiros do outro. Desequilíbrio. No entanto, talvez seja por isso que as pessoas consigam refletir aqui. É só uma curva acentuada que o ônibus vira com certeza.
Sento lá atrás. Adoro ficar no alto, naquele janelão que se abre até o final. Assim me sinto solto. O balanço, a tremedeira me nina enquanto observo tudo o que passa. Tudo uma freqüência enlouquecida, um ruído rosa ou uma interferência perturbadora.
Uma mulher senta. Linda, de vestido vermelho frouxo. Morena típica, braba sorridente. Nossa, as laterais de seus seios. De tarde sempre tenho mais tesão, é gozado isso.
À noite uma mulher passa num ônibus como um flash. Registro na retina. Parece uma marca daquelas que ficam quando olhamos para o sol. Uma ausência. O ônibus passou – eu no bar – ela lá – sumiu – ficou aqui.
Uma pomba preta e branca sobe em direção à luz do poste. Realmente, essa luz amarelada atrai que só.
Venta muito entre o barraco e o mar. Me deixo levar no balanço barulhento. Na curva do barranco o piloto desafia o capitalismo. Alucinado, calor exalado pelo motor. à noite tudo dá voltas. Niemeyer. A tremedeira mexe nos ouvidos. Essa ilusão material, esse cotidiano enfim. Como é bom falar sobre o nada! A rua diz tudo sem saber. Ou será que sabe?
Descubro que o Eclesiastes começa no carnal e terminal na moral. Eu não dou dois passos. Prefiro ficar com o vento, lá atrás do ônibus. E a vaidade, sem querer moralizar, ela me empurra em direção ao topo do vale.
Que curva, que tremor! Os ouvidos coçam. Vejo o ônibus caindo despenhadeiro abaixo. Imaginação.
Não sei como conseguirei entender minha letra do jeito que tá, escrita lá atrás do lotação.
Como é bom falar sobre nada.

25.11.06

borracha aflita

a rua tava entupida de carro a pampa
que ânsia nesse olhar que mira à distância
minhas entranhas têm cheiro de óleo
óleo que permite o amor da máquina
movimento lascivo da engrenagem
enroscar-se todo erótico da máquina
eu só queria deixar de ser engrenagem

a distância dança sobre o asfalto tão quente
passar pela roleta é guerra velada
o ar abafado sufoca a todos
olhares maçados uns dos outros
tanto calor é o fim-da-picada
o trânsito parado sufoca a todos
um barulho seco projeta-se no ar

caralho! o ônibus atropelou o cara
entre horrores e gritos a massa salta
o nada assalta entre horrores e gritos
quase engulo meu chiclete a seco
evito aquela visão tão terrível
agora ele deixou de ser engrenagem
sigo o caminho oposto ao da massa tão sádica

o chiclete já não tinha gosto nenhum
a borracha insossa não tinha sentido
caralho! o cara foi atropelado
retiro ela da boca entre os dedos
encaminho minha mão pra lixeira
a borracha aflita logo gruda em mim
aquela insistência me deixa embaraçado

ela gruda mais na medida em que eu rejeito
a mão já tava toda comprometida
não sabia como me livrar dela
a outra mão tentou intervir
a borracha aflita quis grudar nela
aquela insistência já era ridícula
enfiei a mão no bolso pra disfarçar

em sala de aula

cidadão planetário psicografa lambretas
poesia sem sentido pra matar o tédio de uma aula perdida
a professora e sua compreensão que vão pro beleléu
pelo amor de dios, ninguém aguenta essa mala sem alça
dá vontade de morder
a orelha da minha colega
a carteira ao lado clama
linda mulher em preto e branco
de carne e osso
perfume sinto não
como desejo, como quero
todas elas nuas, minhas
a novidade do sexo
a nova idade sem eixo
menos virtude mais vertigem
escrever e trepar sem parar
tenho duas cabeças pulsantes
que não são apagadores nem giz, mas fúria
de gozo ininterrúpto
um intelecto sexual
a união pela montagem
dois planos em falso raccord
continuidade pelo corte
opacidade que diz sim
negando a transparência dos fracos, pobres de espírito
eu, um desterrado danado sem rumo nem beira
com vontade de viver, viajar
sem volta que dê sentido
quero me sentir vivo
mas não perder pra desmedida
é pra sumir que apareço
é o fim que dá forma à vida
e não o final do plano
que vá à merda o happy-end

22.11.06

(trans)lucidez

a verdade lógica
é somente uma
operação de silogismo?

por força seremos os mesmos
mesmo não seguindo
todos ou precisamente poucos?

gestos muito praticados
acabam por cortar os pulsos
melhor que sejam ressoletrados
antes que a estática torne tudo nulo

melhor fugir do gesso
brincar apenas no seu avesso

o paliativo gosto da madeira
esboça leves sorrisos
mas mesmo o tinto líquido
não permite que se esqueça

entre todos os sins e nãos
que estão aí pra desafiar

a busca incessante
de algo para reassegurar

não que eu queira me expor
mas já dá pra ver o que há

Ontem eu tava arrumando o meu quarto e achei um caderno de anotações muito antigo. Já perdi a noção exata de quando esse carderno é, mas eu devia ter meus 16-17 anos... sei lá. Aí vi essa letra, a última antes d'eu ver que não podia mudar o mundo e senti uma vontade enorme de compartilhar minha nostalgia.



.Idade Mídia.



Idade média da mídia,
mediana cria nossa
na idade das trevas tudo que samba
cai num foça nova.
É o limite da arte,
medíocre síntese da criação,
um feudo a parte
paralelo à imaginação.
Já nascemos rendidos e servos,
no centro do ego cabe o mundo moderno;
que tá dentro da média e não acima
o que sobe a terra puxa.
A média num vai além,
é pé que do chão não se desgruda.

A influência da moda
é cobra foda de esquivar,
o bote é difícil de não levar.
Depois de envenenado
o difícil é se curar,
o veneno é a venda que não deixa enxergar
além da sombra do que é o mundo
e a caverna é o nosso lar.

Daí é que se gera a rebeldia enlatada,
uma revolta comercializada,
fazendo com que chegue ao lugar nenhum
a alternativa tá na moda de um senso comum.
Que tá dentro da média,
sob o controle da mídia,
código de barras de ferro da prisão,
a arte é produzida
com uma fórmula padrão!

laiá laiá laiá la iê...

21.11.06

pra que deixemos de coisa

Tanto quanto o caule
desfralda clichês ao sol

um pé plantado na terra
sustenta o corpo do homem

mas não sustenta sozinho
caminho nem direção

um pé carece de outro
que paire acima do chão

20.11.06

Tédio

Sentimento negativo que tende a alargar o tempo dos minutos, das horas, atingindo até os segundos, em alguns casos. Sente tédio o sujeito, quando percebe que seu tempo está sendo gasto à toa durante um temporário vazio de espírito. Nesse momento, a pessoa nada faz ou faz algo que não lhe alegra nem um pouco. Os sintomas normalmente são o stress, ansiosidade aguda, dor de cabeça, e por vezes uma certa vontade de se suicidar. Ainda há casos em que se recorre ao papel e à caneta como solução. Funciona muito bem.

19.11.06

uma das doideras da lili. ela mete o bichinho na máquina de costura e ele ainda ri um riso mórbido artificial. provavelmente não era pra postar, mas aproveito para divulgar:
Domingo no palácio da república, dia 3 de dezembro
"O Jardim das Delícias"
ela vai se vestir com uma roupa doida cheia de bichos de pelúcia que fazem barulho de forma que quando bater na barriga é um som, quando no cotovelo outro "ah!".

18.11.06

17.11.06

.A Vida.

Se mais uma criança apareceu

e pra felicidade alguém nasceu

eu sinto que a vida éstá mentindo,

pois nunca vi ninguém

nascer sorrindo.

Há aqueles que nascem

porque é preciso,

trazem uma lágirma

ao invés de um sorriso.

Se viver é bom,

como é que a vida diz:

"tens que sofrer pra ser feliz"!?


[Gulherme de Britto e Nélson Cavaquino]
Goiaba(da) paixão

O frio na barriga
Aquele que desce
Quando goiaba sorri
Ainda mais se for pra mim
(é espalhada em melodia).
Eu num sei as palavras
Quais que são
Que disparam pele adentro
Mais som que meu violão
(Permanece pensamento)
Querendo sair de minha boca á sua
num suspiro beijo ..
que eu só queria lhe dizer
não em versos mas em pele
pra arrancar esse frio que escorre
e te mostra a taquicardia quando você me olha, sorri e me engole.

16.11.06

Frase encontrada no 4 andar do IFCS

Era cheio de idéias, mas engoliu o mundo e ficou pesado.

15.11.06

1968

Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.
0 sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições.
Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz.
Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria.
Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.(As vezes por outras coisas também).
É que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até já ganhou uma condecoração.
Resta o catecismo, e nós todos perdidos.
Os inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os previlégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado).
Adormecemos em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e miss-ificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar.
"-Você é compositor de música "jovem" ou de música "Brasileira"?"
A alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade.. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra).
Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.
Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante.
Qual nada. A hipocrisia (é com z?) já havia atingido a indiferença divina da anestesia...
E assistindo a tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinqüente.
Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem.
Providenciem escudos, bandeiras, tranqüilizantes, anti-ácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amem.

TOM ZÉ .

14.11.06

Cabeçapagador
-----------------------------------
eu sempre estranho a forma com que minhas meias se enrugam quando taco-as no aquecedor
o homem é um bicho que apodrece mais que qualquer outro
e são lindas as peles das meninas
peles alvas que nem meia em direção ao aquecedor
ninguém escapa do calor da merda
que se expande na lixeira
que pipoca na cara

e quem foi que disse que a morte é fria?
a morte é ferro quente
como cabeçapagador
Poemeto Erótico # 2

Quero morder
Seu pomo de adão,
Como Eva fez,
Morder sem perdão.

Cubo de gelo
Na boca morna
Derrete, escancara
as pétalas rosas.

Te quero forte
Te quero homem
Me jogue e rosne
E me abandone.

.

Não me abandone.

Casal Disfuncional

12.11.06

???

Escrevo como desabafo. Se as palavras têm o poder de mudar o mundo, tenho absoluta convicção de que as minhas não farão senão provocar algum sentimento no coração de quem as lê. Um bom poeta não muda o mundo, mas sim o identifica e desmonta sobre o papel todas as suas certezas sobre ele.A palavra muda conceitos e atitudes de quem as lê. O problema é que quase ninguém o faz. Por isso que afirmo a mais absoluta inutilidade das minhas frases perante o mundo que me afronta. A utilidade do que faço é meramente pessoal. Quem me ler, estará lendo o meu conjunto de idéias, que pode ser refutado ou não. Não quero que me sigam, que gritem meu nome em praça pública, não quero ter 2000 cabeças de gado nem ser advogado de defesa. Não quero ser deputado nem latifundiário, muito menos militar. Não quero o brilho de uma estrela de cinema, muito menos a apatia de um burocrata de Estado. Quero antes o poder das palavras, a serenidade de um poeta, a alegria de um sambista, a tranquilidade do pequeno rio que corta a vila de Pessoa, o beco escondido de Bandeira. Quero os seios da mulher amada, quero a humildade de um cego. "A vida é uma só, não se engane não", já dizia o poetinha. QUERO VIVER, NÃO QUERO SER VIVIDO!!!


derreteu...

Fotofobia


a janela soa sonhos
que ecoam
em alguns cantos

recuam em vento
fazendo
redemoinhos no peito

lugar onde a rima é regra
se aperta cega
é então risco na certa

a cama soa palavras
onde a moça, sua
dança

luz molhada por
entre as persianas
a deixa malhada

sem o blábláblá interminável
fatos se tornam a melhor ficção
o céu até muda sua cor

linhas de raciocínio
erros de continuidade
já chamam atenção
à verdade

antes o verbo
achado facilmente
do que a rima
cinismo
falsa encantação

sinceridade vem a noite
com menos coisas no
campo de visão

11.11.06

Veo lo mejor y siguo lo peor
-----------------------------------------

Advice For Geraldine On Her Miscellaneous Birthday

Para os que aniversariantes.

Stay in line. stay in step. people
are afraid of someone who is not
in step with them. it makes them
look foolish t' themselves for
being in step. it might even cross their minds that they themselves
are in the wrong step. do not run
nor cross the red line. if you go
too far out in any direction, they
will lose sight of you. they'll feel
threatened. thinking that they are
not a part of something that they
saw go past them, they'll feel
something's going on up there that
they don't know about. revenge
will set in. they will start thinking
of how t' get rid of you. act
mannerly towards them. if you don't,
they will take it personal. as you
come directly in contact face t' face
do not make it a secret of how
much you need them. if they sense
that you have no need for them,
the first thing they will do is
try t' make you need them. if
this doesn't work, they will tell
you of how much they don't need
you. if you do not show any sadness
at a remark such as this, they
will immediately tell other people
of how much they don't need you.
your name will begin t' come up
in circles where people gather
to tell about all the people they
don't need. you will begin t' get
famous this way. this, though, will
only get the people who you don't need
in the first place
all the more madder.
you will become
a whole topic of conversation.
needless t' say, these people
who don't need you will start
hating themselves for needing t' talk
about you. then you yourself will
start hating yourself for causing so
much hate. as you can see, it will
all end in one great gunburst.
never trust a cop in a raincoat.
when asked t' define yourself exactly,
say you are an exact mathematician.
do not say or do anything tha
the who standing in front of you
watching cannot understand, he will
feel you know something he
doesn't. he will react with blinding
speed and write your name down.
talk on his terms. if his terms are old-fashioned an' you've
passed that stage all the more easier
t' get back there. say what he
can understand clearly. say it simple
t' keep your tongue out of your
cheek. after he hears you, he can
label you good or bad. anyone will
do. t' some people, there is only
good an' bad. in any case, it will
make him feel somewhat important.
it is better t' stay away from
these people. be careful of
enthusiasm...it is all temporary
an' don't let it sway you. when asked
if you go t' church, always answer
yes, never look at your shoes. when
asked you you think of gene autrey
singing of hard rains gonna fall say
that nobody can sing it as good as
peter, paul and mary. at the mention
of the president's name, eat a pint of
yogurt an' go t' sleep early...when
asked if you're a communist, sing
america the beautiful in an
italian accent. beat up nearest
street cleaner. if by any
chance you're caught naked in a
parked car, quick turn the radio on
full blast an' pretend
that you're driving. never leave
the house without a jar of peanut
butter. do not wear
matched socks. when asked to do 100
pushups always smoke a pound
of deodorant beforehand.
when asked if you're a capitalist, rip
open your shirt, sing buddy can
you spare a dime with your
right foot forward an' proceed t'
chew up a dollar bill.
do not sign any dotted line. do not
fall in trap of criticizing people
who do nothing else but criticize.
do Not create anything. it will be
misinterpreted. it will not change.it will follow you the
rest of your life. when asked what you
do for a living say you laugh for
a living. be suspicious of people
who say that if you are not nice
t' them, they will commit suicide.
when asked if you care about
the world's problems, look deeply
into the eyes of he that asks
you, he will not ask you again. when
asked if you've spent time in jail,
announce proudly that some of your
best friends've asked you that.
beware of bathroom walls that've not
been written on. when told t' look at
yourself...never look. when asked
t' give your real name...never give it.

- Bob Dylan


Fazem alguns anos, eu participei de um "curso" de poesia no Instituto Moreira Salles - era todo sábado, tipo das 10 da manhã até 1 da tarde, ou alguma coisa do tipo, só sei qu'eu ia todo sábado, por um mês, sempre em uma ressaca desgraçada. O cara que dava a aula era o Cláudio Willer, um sujeito das antôngas que estava muito ligado ao movimento beat. Ele sabia tudo de poesia beat, traduziu Ginsberg, e meio que escrevi no esquema vômito. Ele fez a gente ler muito Octavio Paz e, além disso, me apresentou a Lorca. Eu conhecia pouca coisa, e gostava, mas o que fez eu me apaixonar foi o poema abaixo. Ele declamou o poema e pediu pra gente falar sobre ele, sobre o que a gente achava e eu falei "que esse maluco tá basicamente falando sobre a morte, mas sobre a morte como a grande niveladora, que deixa todos iguais, em um mundo além da morte em que tudo é igual, tipo o bagulho do cervo poder ver o mundo através dos olhos do cavalo, sabe, não faz diferença o que eles eram quando estavam vivos, assassino e assassinados são iguais. Além disso é sinistro por que ele prevê a morte dele." O povo meio que caiu de pau em cima de mim, eles tinham umas outras interpretações e acho que todos mundo parou de me levar a sério no momento em que eu me referi ao Lorca como "esse maluco". Mas o Willer gostou muito da minha interpretação e disse que era isso mesmo. De qualquer forma, esse poema, aliado a todas as coisas de teoria do Paz que eu estava lendo, fez eu começar a escrever de um jeito completamente diferente, que é mais ou menos o jeito como eu escrevo hoje.

Bem, chega, aqui está o poema:

FABULA Y RUEDA DE LOS TRES AMIGOS

Enrique,
Emilio,
Lorenzo.

Estaban los tres helados:
Enrique por el mundo de las camas;
Emilio por el mundo de los ojos y las heridas de las manos,
Lorenzo por el mundo de las universidades sin tejados.

Lorenzo,
Emilio,
Enrique.

Estaban los tres quemados:
Lorenzo por el mundo de las hojas y las bolas de billar;
Emilio por el mundo de la sangre y los alfileres blancos;
Enrique por el mundo de los muertos y los periódicos abandonados.

Lorenzo,

Emilio,
Enrique.

Estaban los tres enterrados:
Lorenzo en un seno de Flora;
Emilio en la yerta ginebra que se olvida en el vaso;
Enrique en la hormiga, en el mar y en los ojos vacíos de los pájaros.

Lorenzo,

Emilio,
Enrique,
fueron los tres en mis manos
tres montañas chinas,
tres sombras de caballo,
tres paisajes de nieve y una cabaña de azucenas
por los palomares donde la luna se pone plana bajo el gallo.

Uno

y uno
y uno.
Estaban los tres momificados,
con las moscas del invierno,
con los tinteros que orina el perro y desprecia el vilano,
con la brisa que hiela el corazón de todas las madres,
por los blancos derribos de Júpiter donde meriendan muerte los borrachos.

Tres

y dos
y uno.
Los vi perderse llorando y cantando
por un huevo de gallina,
por la noche que enseñaba su esqueleto de tabaco,
por mi dolor lleno de rostros y punzantes esquirlas de luna,
por mi alegría de ruedas dentadas y látigos,
por mi pecho turbado por las palomas,
por mi muerte desierta con un solo paseante equivocado.

Yo había matado la quinta luna
y bebían agua por las fuentes los abanicos y los aplausos,
Tibia leche encerrada de las recién paridas
agitaba las rosas con un largo dolor blanco.
Enrique,
Emilio,
Lorenzo.
Diana es dura.
pero a veces tiene los pechos nublados.
Puede la piedra blanca latir con la sangre del ciervo
y el ciervo puede soñar por los ojos de un caballo.

Cuando se hundieron las formas puras
bajo el cri cri de las margaritas,
comprendí que me habían asesinado.
Recorrieron los cafés y los cementerios y las iglesias,
abrieron los toneles y los armarios,
destrozaron tres esqueletos para arrancar sus dientes de oro.
Ya no me encontraron.
¿No me encontraron?
No. No me encontraron.
Pero se supo que la sexta luna huyó torrente arriba,
y que cl mar recordó ¡de pronto!
los nombres de todos sus ahogados.

9.11.06

"Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer...."



Blá blá blá,

blá blá blá blá.
Blé blú bló blê,
blí blû blélft blã!
Blemth!




Anônimo.
.Bosta N’Água.

Já fazia tempos que aquele sujeito corria atraz de tudo.
Atrasado.
O olhar pra traz não via nada.
Desta vez estava só.
Vazio.
Seu medo o abraçava cada vez mais forte.
Apertado,
sufocando qualquer futuro.

Há tempos, o homem via o mundo de costas.
À distancia.
Se acostomou a ponto de se apegar à esse ângulo
(daí aprendeu a apreciar as bundas).
Seus planos, sono, sonhos e sanidade caíam num nada cada vez mais longe,
cada vez mais fundo.
Passou a defender o fracasso enquanto boiava feito bosta n’água ancorada,
sem haver maré que a leve.
Esse aí nasceu condenado a não sair do lugar,
e a “dexistir” antes de pensar.


(Descartes que me desculpe)


Anônimo

8.11.06


ahm?

6.11.06

o sol levanta-se sobre os morros, irradiando calor
pelos vales, que agora só tem poucos verdes.
pequenos pássaros , refugiados,
cantam e fazem amor
sobre meu ar condicionado
o prédio antigo, apesar de recente reforma,
tem seus traços de preguiça.
o meu andar é alto, mas não muito.
atráves das nuvens já saiem raios de bom dia.
entro no banheiro e inicia a rotina.
que já faço de olhos fechados, depois da barba é claro.
ah que beleza, chuveiro de praia, largo e consistente.
mas não dá pra ser perfeito né, nem um pouquinho só.
enquanto a temperatura da àgua se altera de forma brusca
eu, curioso, giro as torneiras freneticamente
em busca do equilibrio.
o telefone toca, bem ali, em cima da pia
eu na ponta dos pés, tento um ângulo para ver melhor
(nem fudendo que vo atender qualquer um)
mas a água esquenta subitamente em minhas costas.
maldito chuveiro temperamental
e meu suvaco ainda cheio de sabonete
enquanto luto com os dedos ainda molhados
nas pequenas teclas do telefone
barulhos e estalos do chão ao teto.
bem atrás do aquecedor, em meio a uma
neblina misturada de vapor e incenso
vejo nitidamente finos traços verticais
vermelhos subindo a parede.
só deu tempo pra pensar em quanto era frágil
meu corpo nu, dentro de uma caixa de vidro.
ao fim deste pensamento as
torneiras se fecharam, todos meus sentidos estalaram.
eu era medo e adrenalina.
brilho vermelho se expande
enquanto tudo escurece
os olhos abrem
e depois fecham
invade-me a noite depressa
tenho medo das coisas do dia
Ainda Distante Da Broca


Cartilagens mastigadas,
Bobinas fósseis,
alimentam engrenagens
Que se desfazem.
E só sobra pó de ferrugem,
Poeira ruiva tetânica,
a migalha instantânea
de uma cor e um ruído -
Rastilho de cobre,
Detrito,
Preso à roda dentada.
Fundido na sola das botas,
Um resto de estanho opaco,
Um diamante marmorizado,
Ainda distante da broca.

3.11.06

Tango

Mão espalmada
Na minha omoplata,
Outra vagueia
Por minha cintura.
A rosa entre os lábios
Faz sangrar
As esquinas da boca
Que a captura.
Gardel nos canta
E eu te sigo
Meus olhos se prendem,
Suas abotoaduras.
Uma perna se ergue
E te abraça,
O meu corpo cai,
Uma perna recua.
O vinho me faz
Saber dançar,
E saber fingir
Ter sido só sua.

2.11.06

Pulmão Esquerdo 38

Ela deixou um vestido de renda secando
e saiu pra morrer um pouquinho.
Ela deixou o marido esperando
e saiu pra morrer um pouquinho.

Um trago
no lugar errado,
hora errada,
pessoas erradas.

Um tiro,
trinta e oito,
pulmão esquerdo.
Tinha efizema,
não deu.

Enquanto seus últimos olhos
fundiam rostos e máquinas de bingo,
ela choramingou pra ferida:
"Não é justo, não é justo,
eu sai pra morrer só um pouquinho."

la sutura del poeta

só pra tirar uma onda...

Traducción de Gladys Mendía


estoy con una idiosincracia hoy
percibo que ni la improvisación de Coltrane
ni ella burla la ley de la frente única

el canto de la estructura metálica
el canto triste de la estructura metálica
de la estructura tocada por el viento
el canto inútil de aquella que se quiere viento
el canto remitido al viento

el humo del escape del auto sale incoloro
intenta disfrazarse para parecerse al aire

general electric me mintió
general electric escribió una mentira en la ampolleta
en la ampolleta de luz fría
estaba escrito que es luz del día

la ampolleta, descubriéndose engañada
la ampolleta, pobrecita, agoniza en la tembladera

el agua sale fría, pero se calienta despacito
el box se vuelve algo como útero materno

sorprendo la dosis de esquizofrenia que cargamos
la dosis variable que cargamos en el vientre

el proyector que nos lanza en la tragedia
la luz que sale del proyector trágico
el humo delimita la luz del proyector
el humo difuso delimita el foco certero

el despertador permanence carcelero
el despertador es cacelero del círculo causal

la sutura del poeta en cirugía
la sutura del poeta produce cicatríz brillosa
produce piel nueva que se quiere vida
que se quiere brillo

gente es para brillar

1.11.06

. . . 2 SONHOS . . .

Fragmentos do evangelho (Redoble por Rancas) de nosso compadre peruano, Manuel Scorza, magnânimo membro do TR.


Nem para o Ladrão-de-Cavalos, nem para o Olho-de-Coruja, nem para o procurador Abigeo contou que sonhara com eles. Pela primeira vez na vida, Abigeo se confundia num emaranhado de sonhos raros. Sonhou o Abigeo que chegou em Tambopampa. Por alguma circunstância que nenhum morador explicou satisfatoriamente, o sol, parado numa hora incerta, pendia de um céu lívido. Nem a noite avançava, nem o dia retrocedia. Passadas umas semanas, o sol começou a apodrecer. Pouco a pouco a luz virou um inchaço: no dia de sua chegada o céu era uma chaga só, a luz gotejava. Com muita dificuldade, o Abigeo abriu caminho entre os farrapos de luz tumefacta. Desceu às casinholas. Sentado numa pedra, avistou o Ladrão-de-Cavalos. Alegrou-se por encontrar um cristão no meio de semelhante lividez. "Aonde vai, compadre?" O Ladrão-de-Cavalos não percebia as maléficas transmutações do céu. "Então não sabe, compadre? Já são as nove. Não sabe mesmo?" Soltou uma gargalhada e gritou: "Vou ao cume do Murmunia!" "Vamos", aceitou o Abigeo e ficou estatelado: o Ladrão-de-Cavalos aprumava-se sobre pés enormes. O Ladrão-de Cavalos, o mais desaforado varão das comunidades, apoiava-se agora sobre os pés de aterradora grossura. Pés mais altos que a cintura do Abigeo, dedos mais grossos que os seus braços arbóreos. O Abigeo ficou sem fala. "Depressa, compadre!", disse o Ladrão. "Não perca tempo." O Abigeo conseguiu umas gotas de voz: "Que doença é essa, compadre?" O Ladrão desarrolhou a garrafa de uma espumante gargalhada. "Ah! meu compadre, isso não é doença, é precaução!" E explicou-lhe que se anunciava uma fatigantíssima carreira que ele, o Ladrão, ganharia. Os cavalos, seus íntimos, os potros, seus compadres, suas patas bem lhe diziam que ganharia. Então os equinos o aconselharam a deixar crescer os pés. Era fácil: bastava mergulhá-los durante sete noites em uma lagoa. Agora, era preciso pintar os pés, todas as noites, com uma anilina diferente: vermelha, azul, amarela, verde. O Ladrão tinha sofrido com o tratamento. Suas gargalhadas demoliam as rochas. "Quero vê-los! Quero ver a cara do subprefeito e das autoridades no dia em que me entreguem a taça. Quem é que vai me segurar com semelhantes pés?" E se escangalhava de rir. O Abigeo acordou tremendo. Saiu para o quintal e meteu a cabeça num balde de água gelada: ainda escuro, encilhou o seu cavalo e subiu a Pillao para falar com Polonio Cruz.

***
O Abigeo alargava as rédeas do Primavera, confiado no conhecimento do cavalo. Pensava. Pela primeira vez na vida não distinguia as palavras articuladas em seus sonhos pelos Velhos. O Velho da Água, o Velho do Fogo e o Velho do Vento mastigavam frases de lã. Não decifrava a mensagem. Quis purificar-se, jejuou vários dias e até se privou de visitar as suas mulheres. Não ouviu melhor. Os Velhos anunciavam um forasteiro sem rosto. Era um homem que em vez de carne ostentava um parede de carne lisa sulcada por sei listas pretas. Os Velhos o conduziram pelo caminho de Chinche e sumiram entre penhascos. O Homem das Seis Listas avançava pela estrada seguido por uma multidão de homens igualmente sem rosto. A formação tomava o rumo de Murmunia. Pela respiração arquejante dos sem-cara, o Abigeo reconheceu que eram forasteiros. Misturou-se nas filas. Perto de Murmunia deram com um cavaleiro. Pela desordem das suas rédeas, via-se, a uma légua, a bebedeira. O Abigeo aproximou-se e envelheceu: era ele mesmo. Disfarçadamente, olhou o seu próprio rosto manchado pela farinha e o pescoço de touro enredado de serpentinas. Que festa era? O Abigeo passou rente ao Abigeo sem reconhecê-lo. E pior: como se o sonhador fosse invisível, o Abigeo parou ao lado do Abigeo e mijou seprentinas. O outro não se alarmou: mais do que pelo sinistro jorro, interessava-se em ler a mensagem escrita nas serpentinas. Não pôde e aborreceu-se. O Abigeo aproximou-se e tratou de ler: só decifrou palavras confusas " . . .carnaval. . . , lagoa, corre, corre. . . , o padeiro dos mortos. . . "


EU DESEJO!
(anônimo, pixado n'algum muro de Paris em 68)

Olhos nas mãos,

Criança que toca no que cheira,

Confundindo sentidos

Do brinquedo novo

Inocente de suas posses

Esboço de se saber existente

Deseternizado no rodopio

- É só puxar a corda que o pião gira o mundo, meu pai me disse...

Corrediço nas linhas das mãos

ao girarmundo pião

peão

Hoje não gosto de pião mais não