16.12.06

David

Esse é o outro.

Se eu soubesse traduzir
Em palavras, o que me diz
Esse seu olhar azul
Que se enruga um pouco
Quando você sorri
Que paira logo acima
Do seu judaico nariz
Se eu pudesse traduzir

Se eu quisesse entender
Esse seu meio sorriso
Que veste nos lábios finos
Tão tortos, tão macios,
Logo antes de me beijar
Esses beijos circulares,
Mornos, lentos,
Aos milhares,
Se eu quisesse entender.

Se eu pudesse explicar
Aos outros e a mim mesma,
Dar um valor ao curinga
Que os anjos possam calcular.
Conto a eles a estória
Do seu batismo por escolha,
Das suas andança loucas,
Se eu pudesse explicar.

Eu conto os grãos de arroz,
Visto as botas espanholas,
Botas de couro de cobra
Que talvez tenhas matado.
Tenho a pulseira indiana,
O baralho de cartas chinesas
Que não me mostra o futuro
Pois ele é tão infinito,
Só conto os grãos de arroz.

Se agora pudesse tê-lo,
Segurar as suas mãos
Cheias de calos, cicatrizes,
Que eu toco sem pensar
Nos pregos que as criaram,
No seu nome de guerreiro,
Porque elas são só minhas,
Se agora pudesse tê-lo.

J.

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