12.10.08

o



O p O q O p O q O p O q O

- o jogo
- o dispositivo
- o improviso
- o ato
- o ator
- o personagem vertical


O p O q O p O q O p O q O



o

11.10.08

impressões

1.
(da música)

Enquanto
no cotidiano informático
da pangéia pós-moderna
me arremessam réplicas plásticas
de um acervo em decadência
Eu
garimpeiro no deserto
à procura de fósseis
já esquecidos
busco
a melodia
que vibre n'ama

2.

Espelha no outro
o vazio deixado
pela ambição de seus ideais
a falta daquilo que não é vivido
a nostalgia daquilo que sempre
foi passado
inveja

3.

não obstante
reflexos de claro-escuro
difusos da memória social
tentam desesperadamente
capturar a essência vital
registrar, para re-produzir
cinema

4.
Covardia, dissimulação
a hipocrisia de uma violência
socialmente concedida
peso e medida
falsa moderação
de um povo que sente
em realidade,
vergonha de sua própria
estampa
5.
(dos erros)

É belo não ser
esconde-se o sujo
por entre as pernas
embaixo do tapete
até feder

6.
(da Vida)

O meio

12.7.08

25.1.08

Choque de realidades


8.12.07

.ópio.

Meu corpo não encosta mais no chão, fecho os olhos e flutuo com a nuvem que vai, e num sopro saio do pulmão; me espalho em sua direcção até te engolir. Vem virar nuvem, se espalhe, deixe-nos misturar até nos desfazer.

16.10.07

A água tinha um gosto sujo naquelas montanhas. Todos os leitos mortos de rios que um dia foram força e fluxo, aparentemente indestrutíveis, como é de praxe na aparência de rios todavia sanos, naquele altura, só dispunham de uns míseros filetes de água turva que desciam com sofreguidão por entre as rochas coloridas e plantas moribundas típicas do deserto andino. Ouvia o som das flautas e samponhas misturando-se ao vento frio e seco dos andes, além desses, também os sons da areia esmagada pelas solas das minhas botas e dos índios sussurrando seus diálogos incompreensíveis numa mescla estranha de Aymará e Castellano. E então, somente depois de entrar por entre os confins da loucura, absorvendo dia após dia o cheiro podre de suas vidas mortas, somente depois de clavar adentro aos delírios da catárse auditiva de suas histórias e habitat, e (principalmente), depois de embebedar-me na letargia anestésica de suas folhas e cactus medicinais, só de aí em diante pude esclarecer a idéia de que somos um só.

26.9.07

Contraste, Brilho e Nitidez

"What i like and what i need are two different things"

Adoramos quando um amigo ou parente,
nos consegue aquela providencial vaga
em uma empresa, mas quando algo
do tipo ocorre na política é incompreensível.
Adoramos desculpas para faltar ao trabalho,
greves e feriados emendados,
porém quando é para nós o serviço
a ser prestado é inadmissível o adiamento.
Achamos ótimo quando o policial é compreensivo,
ou ate mesmo corruptível, frente aos nossos irrisórios
delitos cotidianos, mas quando o mesmo
recebe propina de traficantes é obsceno.
Adoramos e aplaudimos a caça aos bandidos, tratados com a
maior violência possível, como no episódio do ônibus 174,
mas quando as vítimas são civis, é injustificável.
Admiramos a beleza, a criatividade e pureza das
crianças mas quando são subnutridas, ignorantes,
desesperadas e armadas, todos detestam saber o porque.
Adoramos pensar que o legal é ter coragem, sacrificar-se
pelo justo, mas somente quando isso não inclui riscos
aparentes à nossa magnífica e sagrada individualidade.
Adoramos reconhecer nossa boçalidade e tendência
ao rídiculo interpretadas em palco,
mas fora do teatro, ego algum permite admitir.
Adoramos saber fofocas dos outros
mas quando é a nossa vida na roda, é condenável.
Adoramos quando temos o privilégio de passar por filas,
mas quando somos os que ficam para trás, é inexplicável.
Adoramos dizer que a culpa é "deles",
mas detestamos saber que é "nossa" responsabilidade.
Adoramos a idéia do faça o que eu digo e não o que faço
mas quando é o outro exercendo esse ponto
de vista ambíguo torna-se logo detestável.
Adoramos a idéia de progresso constante em nome do conforto,
mesmo que os meios justifiquem o ("nosso") fim.
O homem adora ver belas mulheres, em minúsculos trajes,
mas quando é a própria filha, inaceitável!
(talvez quando aceite, é que se torne civilizado)
Adoramos fazer um fézinha, rezar, apelar, suplicar à Deus
mas na teoria: "graças a deus, sou ateu".
Adoramos o céu azul, o sol forte, o trânsito livre,
mas detestamos aqueles índicios d'outras realidades,
espalhadas pelo caminho.
Adoramos idéias de perfeita beleza e função
mas detestamos nossas lamentáveis limitações.
Adoramos a idéia de persuadir outros
mas detestamos sermos vítimas da indução
Adoramos realizar grandes feitos em conjunto
mas detestamos dividir os ganhos.
Adoramos a idéia do direito adquirido
e detestamos a idéia de deveres imprescindíveis.
Adoramos a idéia de democracia, mesmo que seja só mais uma
fachada para manter nosso atemporal regime de hipocrisia.

17.9.07

Um poema: memória. Cartões-postais.
Inspirado no Epílogo do poema "Luvas de Pelica",
de Ana Cristina César. Essa mulher...


10.9.07

ah

Tão fácil seria o amor
se a sutil necessidade
não fosse este desejo
de romper, escapar e irromper
constatação que preside vários medos

Se o desejo e tédio assim não fossem
furiosa ânsia manifesta, eu iria
libertar-me de minha vida emoldurada
reinventar-me numa vida que não esta

Se a beleza do corpo não fosse tão difícil
tão fácil seria o amor, não fossem
nossas almas desde criança exiladas
subjulgadas por egos infla(ma)dos

Que mesmo em momentos de vontade pura
seja por medo ou teimosia
pensar em irrestrita anistia
é insensatez ou loucura
mas tão fácil o amor seria...

9.7.07




Decidi virar autista.
Não gosto do que vejo, só do que imagino.

Portanto, a partir de hoje, só vejo o que imagino.

Isso.

Bem prático.

Um autista, é o que serei.

Vou ser o burrico do Sancho Pança num rascunho do Dalí.

...("Confusões de um Autista Prático" vol. 1)...

7.7.07

las vacas non entendem mais porquê son tan vakas
los estúpidos non entiendem mais porquê son tan estúpidos
los hipócritas non entendem mais porquê son tan hipócritas
los popozudos non entendem mais porquê son tan popozudos

los ratos non entendem mais porquê son tan ratos
los trolhas non entendem mais porquê son ton tralhas
los pedantes non entendem mais porquê son tan pedantes
los sabetudos non entendem mais porquê son tan rolhas

los idiotas non entendem mais porquê son tan idiotas
los macacos non entendem mais porquê son tan macacos
los humanos no entendem mais porquê son tan humanos
los ridículos non entendem mais porquê son tan ridículos

mismo porque en las dunas y cremas de la espuma
minguém mais quer entender porra ninguma

6.7.07

pouco me lembro
de quando
acordo todos os dias

milhares de pessoas
morrem todos os dias
ninguém parece se importar
mas ponha um cadáver
no meio de uma
rua movimentada
para ver no que que dá

o show da modernidade
matou o passado
uma magia diferente
bruxaria das brabas
endêmica epidemia

o ego complementa
a razão, de forma confortável

gente que pensa
mas com um único
ponto de vista
assume fatos
através da ficção

a distância aumenta
o tamanho diminui
fico longe do problema
alguém acenda a luz!

4.7.07

bocê guarda a sua dor
en el fundo de la entranha
non fica fazendo mannha
aguanta firme todo esse horror

bocê non finge u dolor que sente
real demais - parece ficción
a dor que dói sem doer nu corazón
nem bocê nem niguém entende

bocê sofre calada la dor que non entende
transforma ela em rima
em mel, em olhos abertos, em endorfina
la dor quasi nem se siente

entre el futuro y todo lo mais que embolorou
bocê esconde legal a sua dor

30.6.07

Fallout (Nightmare)

War. War nerver changes.
The end of the world ocurred pretty much the way we had predicted.
Too many humans, not enough space or resources to go around.
The details are trivial and pointless and
the reasons, as always, purely human ones.

The Earth was nearly wiped clean of life.
A great cleansing, an atomic spark struck by human hands, quickly raged out of control.
Spears of nuclear fire rained from the skies, populations turned into
ashes that composed a gray blanket across the Earth.
Continents were swallowed in flames beneath the boiling oceans.
A quiet darkness fell upon the planet, lasting many years.
In confronting what we feared the most,
we've became something different upon our own eyes.

10.6.07



NÃO!

24.5.07

toda tribo (patota) tem seu totem (mascote)
parece que o nosso vai acabar sempre sendo zappa
frank iuri zapphernando...
através de rituais xamânicos baixa sempre o mesmo santo

23.5.07


.................................................
meu comparsa iuri y yo compusemos essa na calada da noite
pura inspiração, pra descontrair as argentinas

obs: adaptação de "filosofia" do noel rosa



Jugo de naranja

este olor me hace duro
este huelo que és tan puro
és "azedo", pero dulcemente
és un jugo natural
sin él me quedo mal
yo lo quiero para siempre

ai, dios mio que mujer
su marido no se encuentra
y ella siempre me trae el tormento
de querer estar por dientro
de salir de encuentro al viento
desfrutar el sentimento

yo voy poner la naranja en su culo

para ver si de la boca sale un jugo
y si el jugo sale dulce
yo te rompo la conchita
te haciendo muy feliz
y si el jugo no salir
yo te parto como un queso

y te pongo a sofrir

9.5.07

insegura concessão

As pedras não mexem
são espectadoras de tudo que está por vir
tanto lixo na lagoa e até parece que só elas que sabem quem polui
as ondas insalubres do tempo se chocam com as pedras
o asfalto, tão perto assim, colado, alguém passa rápido e grita:
-Fazendo porra nenhuma né!?

de fato, é verdade
mas não me sinto mal em não estar contribuindo para o PIB
prefiro pensar em como limpar toda essa merda aqui
que tu e eu fizemos!

sou capaz de assimilar o que não gosto ou discordo
mas sou incapacitado (ou pelo menos desanimado)
à tentativas de liderança ou engajamento
numa sociedade exponencialmente individual

essa vontade de mudar o mundo
através de um suposto dom único
isso pode ate ser legal, mas com 6 bilhões
de semelhantes, o mundo fica imune

Enquanto o verde queima ou é cortado
e o azul vital torna-se escuro
ainda tenho de ouvir que tudo vai melhorar
com a nova próxima polítca de juros...

3.5.07

Tem algumas adolescentes britanicas...

sao barulhentas, futeis, exageram na maqueagem,
sao nojentas de tao metidas, geralmente com vozes
irritantes (aqueles gritinhos agudos de gente fresca
que quase faz explodir os timpanos)...
geralmente sao loiras de olhos verdes ou azuis,
muitas sao horrorosas, gordas, flacidas, de cabecas
pequenas e rostos achatados.
Mas tem algumas adolescentes britanicas... que sob a
luz do fim de tarde, vistas de longe, sentadas num parque,
nao sei... Nelson Rodrigues e Nabokov explicam
merlhor.

...(fim de tarde em edimburgo)...

2.5.07

mosaico

o tempo passado e o tempo presente estão ambos talvez presentes no tempo futuro e o tempo futuro contido no tempo passado se todo tempo é eternamente presente todo tempo é irredimível. o que poderia ter sido é uma abstração que permanece, perpétua possibilidade, num mundo de apenas especulação.
o que poderia ter sido e o que foi convergem para um só fim, que é sempre presente. Ecoam passos na memória sob as galerias que não percorremos Em direção a porta que jamais abrimos
Assim ecoam minhas palavras na sombra da lembrança, estalam e muitas vezes até quebram sob a carga, sob a tensão, tropeçam e scorregam, perecem, apodrecem com a imprecisão absurdo o som do tempo devastado que antes e após seu rastro alastra
Eu disse à minha alma, fica tranquila, e espera sem esperança pois a esperança seria esperar pelo equívoco, espera sem amor pois o amor seria amar o equívoco espera sem pensar, pois pronta não estás para pensar.

Assim a treva em luz se tornará, e em dança há de o repouso se tornar
Embora a razão seja comum à todos, cada um procede como se tivesse um pensamento próprio. O caminho que sobe e o caminho que desce são um único e mesmo.

12.4.07

me calo então

se tudo vem quando é preciso
não é desperdício de imaginação

nem quando a memória é inóspita
como em momentos de despedida

mesmo uma dor inventada
pode depois virar ponto de vista

produzida sorrateiramente
pela carismática sub-consciência

passatempos sobre o muro sólido do concreto
com incertos métodos reinterpretativos

o encaixe é tal que só permite
pequenas frestas para prever contra-tempos

mas o tempo de resposta
nem sempre cumpre o prazo

rupturas iminentes
deste muro extraordinário

revoluções eram contidas
em minha pele impermeável

mas o muro cede
o que fica
é o silêncio

silêncio
o norte e sul
há tempos são descritos
em demasiadas palavras

26.3.07

A fé.

"..a arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê.."

Meu chão não me aguenta mais.
O teto já ameaça a cair se eu não abrir a janela enquanto o ar se mistura com as idéias viciadas que estão sufocando minha cabeça.

O ventilador não funciona.

No meu quarto não há novidade alguma, só variações de coisas velhas.

As paredes não me escutam, a porta não engole minha chave

enquanto a janela e a cortina continuam fechadas.
O breu já se fez claro-escuro (nada confortável, diga-se de passagem).




Talvez eu acenda a luz...

22.3.07

mergulho

percebi que a letra sai fácil
em momentos mais difíceis
num ritual de fatores lógicos
fico a contemplar o estrago

da auto-destruição
tateio o medo experimentando
vergonha imaginada
em situações iminentes

a virtude não é mãe
o desejo e o direito
mostram problemas aparentes
na claridade da solidão

preposições são vícios
de abrigar ausências
em bolhas anestésicas

quando ninguém olha
modela-se ética própria
manter um padrão é muito difícel
a cada momento cabe sua forma

o que penso primeiro
é uma verdade intermitente
não dá pra negar um sentimento original
mesmo oriundo de mudanças de humor

eventualmente vou acabar me perdendo
bem sei que é falho o caminho por onde vou
mas não me rendo enquanto há tempo
de tentar entender o que sou

10.3.07

9.3.07

foda-se

Na praça tem de tu-dooooo, tem de tu-doooo (moleque falando) Da feira de antiguidade e suas fotos é que vem o passado.
...................
uma coisa nada a ver com a praça: estamos entre o homem que acredita no mundo metafísico, místico, pan-religioso, e o que desafia, o que diz “eu não acredito”, cético do contra. Entre o homo transcendentalis e o materialis. Esse sou eu.

e voces sabiam que tentei postar uma poesia - um plágio, diga-se de passagem - e o maldito google, esse oráculo que vive dizendo pra gente que certas coisas nao existem, que dão no vazio, essa entidade e tanto, veio me dizer que essa poesia continha palavras ilícitas? pois é! deve ser por causa do inglês né baby? mas eu rangei um jeito de enganá-los, e nao foi com sílabas, mas com pontos e vírgulas. nada a final.

o nome é "Mas ééééé CARNaval"


Corisco de São Jorge, o Diabo Louro diz:
people people
money
american friends
i need money
qualé o sentido da vida
por que nós todos juntos aqui
money

6.3.07

filme-limpeza

“Por onde passa, o homem deixa sua marca” (em palavras escritas)

1 homem se enfiando no meio do mato cortando tudo o que vê pela frente. Homens munidos de cerras elétricas derrubam árvores.
1 só homem passa pela praia deixando pegadas pelo caminho.
caminhos e desenhos de Nazca no Peru.
trabalhos de Richard Long com caminhos desenhados aos pés através dos pastos.

“O planeta terra não suporta mais o homem, não suporta mais o homem, não suporta mais o homem e suas marcas, o planeta terra não suporta mais, o planeta...” (Jerry Lewis abre um buraco no chão de tanto andar pra frente e pra trás).






Cidade com fios de luz, rastros automobilísticos.
“Você me deixou toda marcada. Te amo tanto que só consigo me lembrar de tuas memórias”.
Interior de um apartamento bagunçado em copacabana (casa dos amigos).
“Você me traiu e eu preciso esquecer. Eu tenho que esquecer (em varias vozes: I need to forget – yo tengo que olvidar)”. Bombas atômicas (?). Trecho voando de Hiroshima Mon Amour (?).


Búzios, macumba, e a voz de uma mãe de santo que fala da limpeza, dos terreiros com toda aquela fumaça. ritual. Imagens da lavagem espiritual dum ente qualquer. Limpezas mil.
e a Natureza se regenerando, o esquecimento: macaco que come banana, grama que cresce entre placas do cemitério branconcreto.
Finalmente uma grande limpeza queimando ervas mil em meio às antenas da Paulista.
E O Mar leva embora caminhos traçados n'areia.

1.3.07

réflexion

si le soleil passait si tu bouges
on debouchait de la lumière

vers une mot trop dur

ou les nuages sont bannis
tu dis que la absence de coulers

c'est un crime commit pour le hiver
je te dis que c'est vrai

mais tu part a toute vitesse est-ce que nous sommes encore enfants?

j'attends qui on quelque matin un amour qui ressemble une rencontre de chemin

8.2.07

.blablablemth.

é.... aquele negócio era bom, mas eu resolvi declinar quando a moça disse que parecia peixe, pois acho que na verdade as frutas são estrelas que caem dos chocolates crocantes....

---

....enquanto na bolívia dizem que quando uma llama peida perto dum geizer, nasce uma criança na africa...

4.2.07

janela aberta

sem saber se encorpo ou se afogo
as idéias que tenho tido
enquanto o céu não dá um pio
e o sol nos doura em alto-fogo

há um diálogo na cortina

a luz pergunta à sombra inquieta
das aflições da alma e algo sobre
como guiar as asas nas curvas
das relações regulativas

mas tudo que a sombra responde
é o próprio ponto de vista
onde a eternidade é encontrada
sem pressa, em contínuas horas rasas

eu podia ter fingido que não vi
mas era preciso dar fim
à vertigem relativista

o que não importa mais
é se estou aqui ou ali
somente estou.

e tampouco importará o acúmulo
de erros, ainda que reconhecidos
se toda temporalidade não se sobrepõe

são usados os mesmos critérios
os acho tão esquisitos, tantos
argumentos insossos que resultam
na insônia sem estradas em que vivo

então me conscientizo
um louco que finjo aos outros
uma imposta normalidade
irresponsável irrevelia

falar mal dos loucos
é esquecer que é o
dinheiro que legítima

tangenciando a loucura
ao ignorar indiossincrasias
ou questionando a validade dos
inexplicáveis atos na rotina

perambulando
nos meus ouvidos
o bom senso é bom
mas me dá uma agonia
sem loucura fico oco
caio logo em hipocrisia

1.2.07

imagens sertanejas

"... Em 1896 hade rebanhos mil correr da praia para o certão; então o certão virará praia e a praia virará certão.
Em 1897 haverá muito pasto e pouco rasto e um só pastor e um só rebanho.
Em 1898 haverá muitos chapéos e poucas cabeças.
Em 1899 ficarão as águas em sangue e o planeta hade apparecer no nascente com o raio do sol que o ramo se confrontará na terra e a terra em algum lugar se confrontará no céu...
Hade chover uma grande chuva de estrellas e ahi será o fim do mundo. Em 1900 se apagarão as luzes. Deus disse no Evangelho: eu tenho um rebanho que anda fóra deste aprisco e é preciso que se reunam porque há um só pastor e um só rebanho!"
DOM ANTÔNIO CONSELHEIRO, profeta e regente do Império do Belomonte de Canudos, Sertão da Bahia, 1897.

Entre-Montes - Sertão de Alagoas

Sol de Angico, túmulo de Lampião - Sertão de Sergipe

e o sertão já virou mar...

Rio São Francisco por detrás da represa de Sobradinho (Bahia) -

este mundo de água que vemos no mapa do Brasil de tão grande

26.1.07

.A Tartaruga. (poesia lema-hino-reza de minha viagem)

Desde a tartaruga nada não era veloz.
Depois é que veio o forde 22
E o asa-dura (máquina avoadora que imita os
pássaros, e tem por alcunha avião).
Não atinei até agora por que é preciso andar tão
depressa.
Até há quem tenha cisma com a lesma porque ela
anda muito depressa.
Eu tenho.
A gente só chega ao fim quando o fim chega!
Então pra que atropelar?

[mané de barro]
.Poema.

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que
eu sei.
Meu fado é de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

[mané de barro]
.A Disfunção.

Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de
a menos
Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso
trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa
disfunção lírica.
Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1- Aceitação da inércia para dar movimento às
palavras.
2- Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3- Percepções de contiguidades anômalas entre
verbos e palavras.
4- Gostar de fazer casamentos incestuosos entre
palavras.
5- Amor por seres desimportantes tanto como pelas
coisas desimportantes.
6- Mania de dar formato de canto às asperezas de
uma pedra.
7- Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais
importância aos passarinhos do que aos senadores.

[mané de barro]

22.1.07

domingo

18.1.07

fuga

"costumo comparecer aos
meus próprios desencontros"
no reverso da velocidade da luz

é pelas ruas que percebo
e vejo até beleza
nos estranhos radicais
paradoxando confusões

minha mente irredutível
cansada de tantas resiliências
ao estilo de sísifo
já não sabe mais o que esperar

a vida toma valor do nada
na medida de que nós a negamos
sendo a sincronicidade ao que tudo
indica, chave para o fim da agonia

mas o tempo começa
e acaba. o tempo todo.
cadê a cavalaria?
já se perdeu, ou se esqueceu!

se voltar será somente para
atropelar por minhas próprias
avenidas, tudo o que construí

unir visão/conceito
imagem/signo
sintaxe/semântica
não me serve de nada

o futuro continua
imprevisível, isento
em voraz conceituação
com o tempo presente

só me resta torcer
para encontrar paz
mesmo que inventada
numa realidade diferente

"O que verdadeiramente somos é
aquilo que o impossível cria em nós"

16.1.07

seugndo pseqiusas reecntes
não imoprta a odrem das lertas em uma paalvra
dsede que a pirmeria e a ultmia estjeam no luagr.
itso se dvee ao ftao de que a mnete huamna
não lê as lertas seapardmente
e sim a paalvra cmoo um tdoo.

8.1.07

dois reisados do dia primeiro na cidade de Juazeiro do Norte (Ceará)


notícias da terra da mãe de deus

posto agora um pedaço de meu extenso diário de viagem. são fragmentos, anedotas de coisas que aconteceram e que podem transmitir um pouco do quanto é espirituoso o nordestino, ou simplesmente passar sensações que tenho tido. tá dando problema, então foto mesmo vai na próxima.

O entardecer no juazeiro

É curioso como o entardecer daqui é diferente. A altura talvez seja uma diferença; o Rio é tão distante do céu... As ruas sujas desse interior lembram a cidade de Niterói. O vento da tarde que carrega chuva é de agora. Mas o roxo do céu, a formação das nuvens, a quantidade de estrelas que se vê na linha do equador, um moto-taxi ligeiro, as feiras permanentes se desarmando, o calor e as faces endurecidas das pessoas, talhadas em pau de imburana, o cheiro e a sensação de caminhão, de pé na estrada, de final de filme a la “o dragão da maldade contra o santo guerreiro”, o suor incrustado em nossa pele, um fedor bom, uma certa inocência e uma sentimento leve, de volta no tempo, tudo colabora para uma singularidade com gosto de suor. Tudo roxo, nem rosa nem verde, nada de vermelho-poluição, só roxo por detrás de nuvens hiper-definidas, destas de quadros sacros. Nada mais a dizer.

A casa de pau-a-pique e o avião

Seu João estava na casa da carroça dos mamulengos, quando apareceu aqui um piloto de avião. Ou então João viajava para o Rio de Janeiro de avião junto à trupe da carroça. De qualquer maneira ele comentou com Antonio acerca do quanto seria difícil pilotar uma máquina daquelas, um Boeing ou mesmo um aeroplano que seja. Antonio pensou um pouco e respondeu que também era muito difícil, principalmente para um piloto de avião que vive na cidade como aquele devia viver, construir uma casa de pau-a-pique como fazia seu João. Ele realmente era conhecido por suas casas simples e fortes, construídas com uma força e rapidez inigualáveis. João franziu a testa, e não se demorou a responder: “É claro que não, Antonio! Se o cabra pilota essa máquina é claro que sabe construir uma casinha como a minha!”.

As bandas de forró brega

Pra montar uma banda de forró brega basta seguir uma receita. Deve-se primeiro ter uma dupla que crie (ou não necessariamente) músicas mastigáveis por qualquer banguela. Depois é buscar um empresário que agregue ao grupo duas mulheres dançarinas, que rebolam a beça e dançam de tudo menos forró, pois aquilo, na verdade, é o samba do crioulo doido. Com relação ao nome há varias variantes, no entanto há pouca exceção à regra do substantivo composto, das combinações sexuais e da presença da palavra “forró”: calcinha preta, cheiro de menina, gaviões do forró, aviões do forró, forró sacode, saia rodada, rabo de sereia, índios do forró, índios dos teclados, índio e sua tribo, baby som, cobras do forró, gatinha manhosa, nodoa de cajú, loira do forró, solteirões do forró, cachorro da muléstia, pau de balançar, chibata preta, mel com terra, mastruz com leite, caviar com rapadura.
Agora é a hora de vestir o quarteto com roupas as mais bregas possíveis e com os menores custos, pouco tecido e uma cor só, de preferência todas brancas ou todas negras. Aliás, os homens devem ter cabelos pretos e as mulheres loiros. Depois é só gravar o CD nalguma pequena gravadora ou de maneira independente (Calipso, por exemplo, é totalmente independente), que terá pouco mais de trinta minutos a serem degustados. Partimos então em viagem, e pra isso não deve faltar um ônibus com vidros fumê, com o nome do grupo naquele estilo de letra de assinatura chique, e, finalmente, com a cara em grande escala do quarteto nos três lados do veículo. Está pronta a receita.

Bêbados em funeral

Na cidade de Itapipoca, no interior do Ceará, as pessoas desocupadas, pra variar, gastavam seu tempo bebendo cachaça no ponto de boemia da cidadezinha. De repente surgiu, ao lado do bar que fica aberto até altas horas, uma funerária, de maneira que todas as vezes que os bêbados saiam do bar a segurar-se uns nos outros, acabavam por tecer comentários um tanto mórbidos. Um ficava medindo o outro com o caixão da vitrine e dizendo, “vixe! Não serve não!”. Outro se desmanchava em prantos pensando em seus avós, “tadinho dos meus avós! A funerária cobrou tanto deles...”. Outro ainda, ficava desesperado e começava a berrar correndo. Dizia que não queria morrer e desaparecia pela escuridão desalumiada. Realmente, bar e funerária não é lá uma boa combinação.

Os orelhões de Padim Ciço

Se andarmos por dois minutos pela cidade do Juazeiro do Norte logo perceberemos o quão diferente são os orelhões das esquinas com relação aos habituais de todo o Brasil. Aqui eles têm o formato de um chapéu preto, que bem parece com aqueles de aço que encontramos nas fotos da Primeira Guerra Mundial, e são elevados por uma barra de ferro com forma de bengala. São, pois, as marcas do vestuário do Padre Cícero, fundador e santo protetor da cidade.
Na realidade este modelito telefônico não foi idéia da secretaria de turismo, mas um baque que deu no prefeito enquanto este ia pra cama. As depredações dos orelhões se multiplicavam pela cidade e ninguém conseguia dar resposta a algo que tirava tanta verba dos bolsos da prefeitura. Daí o senhor prefeito ficou lá, matutando uma idéia que desse solução a este problema de primeira importância. Havia acabado de comer seu prato predileto, lombo de porco com abacaxi, bem chique assim, coisa de natal, quando, já deitado, ajeitando seu travesseiro de penas de cisne, veio a imagem de supetão: uma bengala que segurava o chapéu, um telefone diferente, que arrematasse de uma só vez dois problemas: ninguém mais depredaria os orelhões ao mesmo que a sujeira dos mesmos não mais se perceberia em meio ao negrume do vestuário.

5.1.07

...

I'd be more cynical, but I can't keep up.

2.1.07

31.12.06

desconfio

cartas sobre a mesa
para que?

se ganhar neste jogo
é perder

a dama só vê utopia
no valete que diz ser rei

cartas sobre a mesa
outra vez?

trunfo de melancolias
para que?

cristal de um só lado
não pode ser

se estão, as cartas marcadas
a carapuça é prêt-à-porter
ser parte sua não
me faz parte
minha boca não
te engole mais
(muito sólido)
já faz tempo eu
nem me lembro
quando das fotografias
intactas

meu gosto amargo
pelas linhas brancas
não se forma mais dos medos
não sinto tua falta
falta
já fazia parte
tanto tempo

o sol se pôs contra
minha vontade
o sol
tanto quanto teu rosto
torto
eu
em outro
me recompus

27.12.06

aquela coisa outra toda

estrelas improváveis deslocam-se conforme o olhar
alguma percepção outra se desvela naquele momento

e se esse fosse meu contato fugaz com a reailidae
e se eu e você vivêssemos alienados da realidade
e se ela surgisse convulsiva numa terça ou quarta

formas coloridas tomam conta do meu firmamento
formas coloridas vão tomando conta da minha vista
vão crescendo a partir de um ponto indefinido

vou me livrando da vontade de tornar inteligível
vou me adentrado numa coisa que não é nem ideograma
vou adentrado numa coisa que me torna inerte

caio de vez na inércia que é um dos tigres da vida
caio no labirinto que não tem jeito de evitar
vejo algum espelho noutro lugar bem diferente

26.12.06

Caneta turbilhada

Agora escrevo
e nada penso,
apenas sinto.

O que corre em minhas mãos
não é racional,
é apenas verdadeiro.

Bom poeta é aquele que sente no papel
e consegue fazer da sua caneta,
o refúgio-comum da vida.

E se perguntarem porque escrevo,
não responderei imediatamente.
E quando for dizer algo,
palavras não sairão da minha boca.

Porque o papel,
não indaga nem questiona.
Apenas escuta
os lamentos de uma caneta turbilhada.

Relato noturno (partes I e II)

A noite tudo encobre tão fagueira,
e os corpos polipodéticos se irmanam.
A lua de amor cheia, alvissareira,
testemunha os amantes que se amam:
“Da amante vê-se o seio – diz-me a lua-
o amante a beija já em seu regaço.
Despi a bela dama agora nua.
Toma-lhe em profundo abraço.
Beija-lhe a vulva, no seio faz carinho.
A mulher alto geme – segue a lua-
De amor a areia faz-se ninho.
(E o amor convulso continua).”
Sussurrante falou-me a lua cheia:
“Os amantes amavam-se na areia.

Na alvorada o Sol presenciou
O sono dos amantes exauridos.
“Eles, ambos nus e sós – o Sol falou –,
dormiam com seus corpos confundidos.
O homem ainda dorme e boceja,
Mas a amante o beija insaciável.
Beija-lhe o falo e a glande sua beija.
Sendo o beijo então irrecusável
o homem em sua fronte faz carinho;
delicada, seu sexo ela traga.
(De novo de amor areia é ninho).
Seus cabelos ele, terno afaga.
Então jorra do fundo de seu ser
o que ela sorve, com gozo e prazer.

22.12.06

Ode à natureza

É posto um espetáculo da natureza
harmonioso como se houvessem havido ensaios
com banda, dançarinos e bolas de encher,
que estufam-se formando diversas cores.

Raios ultravioletas rasgam a pele
e o corpo já faz parte do show.
O ritmo diminui ao cair do Sol,
mas não pára nunca!

A mãe natureza faz espetáculos infinitos
com mil trezentos e cinqüenta e seis
tons de cores diferentes
e nem cobra entrada!

Quando o véu de estrelas
se põe em marcha,
o baixo marca o tempo
e as nuvens apertam o compasso.

Os dançarinos flutuam lançando
piruetas e baquititindungas,
acompanhando o vôo dos pequenos grãos de areia
que se revelam inquietos na escuridão.

frases do filme "Le Petit Soldad" (1963, Godard)

- não sabemos onde por o coração

- tentar matar alguém diversas vezes é como tentar suicidar-se várias vezes

- final do livro de jean cocteau: um cara morre ao se fingir de morto e assim ficção e realidade se fundem

- a vida dá razão às mulheres e a morte aos homens

- fico perdido se não me finjo de perdido

- tenho certeza de que deus não tem ideal

- "a ética é a estética do futuro', essa frase reconcilia esquerda e direita"

- não temos guerra, apenas a forma de nosso corpo e rosto. quem sabe o importante não seja justamente reconhecer este rosto?

- buscamos como a ouro algo no fundo de nosso pensamento. encontramos uma palavra: já é silêncio.

fim

só por um momento

O que não escrevi, calou-me.
O que não fiz, partiu-me.
O que não senti, doeu-se.
O que não vivi, morreu-se.
O que adiei, adeus-se

21.12.06

Os Férmions

um dia eu aprimoro esse texto. eu eliminei alguns parágrafos sobre os bósons e sobre a antimatéria, que também tão elencados no modelo padrão do Gell-mann, modelo que tenta sistematizar os constituintes primordiais da matéria e da energia; achei que tavam muito xinfrim. bom, primeiro eu tenho que conhecer melhor a física quântica...

Sempre me irritou profundamente aquela arrogância deles! Diziam sem a menor cerimônia: É, como você sabe, nós somos as partículas que constituem toda a matéria. Ah, isso me enervava tremendamente! Ainda mais quando sua petulância permitia que acrescentassem: Você não sabe o trabalho que isso dá. Essa famíla dos Férmions era um gente desagradável. Eu era acometido por uma vontade jacobina, uma vontade enorme de metê-los na guilhotina a cada vez que ouvia esse discurso. Eles representavam pra mim aquela nobreza asquerosa que se faz de desentandida. E o pior, pretendiam enganar os outros! Falavam dos privilégios como se fossem um fardo. Com isso eu não podia! Sínicos!

Tive contato com duas ramificações dessa família. Na época eu era vizinho dos Férmions Léptons, e os Férmions Quarks todo fim-de-semana almoçavam na casa deles.
O Léptons ainda tinham algo de agradável. Por não ter tamanho mensurável, por não sofrerem a influência da força gravitacional, pelo menos tinham maior autonomia, me pareciam mais livres. Os Léptons viajavam por conta própria. Claro que só faziam isso por que eram uns privilegiados, mas não me cabe desmerecer essa vontade de conhecer o universo, por que se pudesse eu também viajaria como eles. O Elétron tinha uma carga negativa que me afligia. Também não fazia jus aquele espírito que me encantava na família, porque passava grande parte do tempo girando em torno de um núcleo. O Neutrino sim era uma graça, praticamente não tinha massa, era um tipo bem tranquilo, um pouco alienado também, mas o certo é que ele não tava muito aí pra essa coisa de interagir com a matéria, ficava quase sempre na dele, viajando pelo universo sem colidir com nada. Havia também um outro que não cheguei a conhecer muito bem, o Múon.

Quanto aos Férmions Quarks, esses eu realmente detestava. Sabe aquele tipo totalmente provinciano? Pois eram assim, não lidavam muito bem com a solidão, com o desconhecido, ficavam o tempo todo aprisionados no núcleo. Tinham aquela pompa de de serem também dessa família de partículas que constituem toda a matéria, mas eram fracos de espírito. Gozavam do nome sem a menor preocupação em merecer o título. Uma coisa que eu achava terrível neles era a coisa de todos terem nomes composto: Quark Up, um rapazinho fútil e serelepe; o Quark Down, pseudo-existencialista e profundamente depressivo; Quark Charm, um narcisista irritante; Quark Strange, esse o mais interessante, porque ao menos tinha vontade de causar um questionamento; Quark Top, muito próximo do Quark Charm, um arrogante terrível; Quark Bottom, que eu não conheci muito bem. Reparem que usavam o sobrenome também como nome, numa redundância totalmente descabida. Se apresentavam invariavelmete ostentando o nome completo. Era ridículo: Olá, sou Quark Sei Lá das Quantas Férmions Quark. Faziam sempre questão de lembrar que constituiam o núcleo celular - não sei pra que, porque eram um broncos.

20.12.06

19.12.06

(no hay metrica, carajo!)

.La Muerte del Payazo.

Um rosto borrado, chorando,
Cansado de ver o mundo cantando.
O sonho acabado
No espelho quebrado,
O circo queimado
E o orgulho no chão!

É aquela voz no coro que entra atrasada
Tentando pegar o tempo que já passou,
Mas ela ficou pra trás,
Virando cada vez mais uma lembrança.

Sua piada não agrada e o povo só ri da sua desgraça,
Nem o seu sorriso pintado desfarça
O desconsolo de não ter feito o mundo sorrir!

O rosto borrado, chorando,
Cansado de ver o mundo cantando.
O sonho acabado
No espelho quebrado,
O circo queimado
E o orgulho no chão!


(y morrió!)

18.12.06

16.12.06

O Divã



Relembro a casa com varanda
Muitas flores na janela
Minha mãe lá dentro dela
Me dizia num sorriso
Mas na lágrima um aviso
Pra que eu tivesse cuidado
Na partida pro futuro
Eu ainda era puro
Mas num beijo disse adeus.

Minha casa era modesta mas
eu estava seguro
Não tinha medo de nada
Não tinha medo de escuro
Não temia trovoada
Meus irmãos à minha volta
E meu pai sempre de volta
Trazia o suor no rosto
Nenhum dinheiro no bolso
Mas trazia esperança.

Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Por isso eu venho aqui.

Relembro bem a festa, o apito
E na multidão um grito
O sangue no linho branco
A paz de quem carregava
Em seus braços quem chorava
E no céu ainda olhava
E encontrava esperança
De um dia tão distante
Pelo menos por instantes
encontrar a paz sonhada.

Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Por isso eu venho aqui.

Eu venho aqui me deito e falo
Pra você que só escuta
Não entende a minha luta
Afinal, de que me queixo
São problemas superados
Mas o meu passado vive
Em tudo que eu faço agora
Ele está no meu presente
Mas eu apenas desabafo
Confusões da minha mente.

Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Essas recordações me matam.

Roberto Carlos Braga

David

Esse é o outro.

Se eu soubesse traduzir
Em palavras, o que me diz
Esse seu olhar azul
Que se enruga um pouco
Quando você sorri
Que paira logo acima
Do seu judaico nariz
Se eu pudesse traduzir

Se eu quisesse entender
Esse seu meio sorriso
Que veste nos lábios finos
Tão tortos, tão macios,
Logo antes de me beijar
Esses beijos circulares,
Mornos, lentos,
Aos milhares,
Se eu quisesse entender.

Se eu pudesse explicar
Aos outros e a mim mesma,
Dar um valor ao curinga
Que os anjos possam calcular.
Conto a eles a estória
Do seu batismo por escolha,
Das suas andança loucas,
Se eu pudesse explicar.

Eu conto os grãos de arroz,
Visto as botas espanholas,
Botas de couro de cobra
Que talvez tenhas matado.
Tenho a pulseira indiana,
O baralho de cartas chinesas
Que não me mostra o futuro
Pois ele é tão infinito,
Só conto os grãos de arroz.

Se agora pudesse tê-lo,
Segurar as suas mãos
Cheias de calos, cicatrizes,
Que eu toco sem pensar
Nos pregos que as criaram,
No seu nome de guerreiro,
Porque elas são só minhas,
Se agora pudesse tê-lo.

J.

Gardel & I

Tem um poema que eu postei aqui, o "Tango", que, em uma dessas estranhas manifestações das musas, veio antes em inglês, pra depois brotar no canteiro da última flor do lácio. Ele é mais fluido em português mas, a pedido do Fernando, posto aqui ele como veio ao mundo.

He held the rose
between his white teeth,
I gave him my hand:
"Won’t you tango with me?"
A foxtrot lipstick kiss,
Red as the blood that dripped,
from the corners of my mouth
when I took the rose from his lips.

Gardel moaned in a record
Fluid, soft and hard;
You sure could get in the beat
Of a south-american bard.
We shared a cigarette,
the night was still and hot.
We didnt say much,
whatever we said I forgot

a gente

a gente tende a não gostar da potência negativa.
a gente tá muito acostumado com a coisa da cópula.
a gente não gosta muito de verbalizar o nome.
a gente tem que pensar mais no contexto.
a gente vai até certo ponto.
a gente vai longe mas pára.
a gente não vai além do mito.
a gente não vai muito além da imagem.
a gente não sai muito do paradigma.
a gente tem que ver mais eisenstein.
a gente tem que relaxar mais.
a gente tem que pensar menos no tem que.
a gente podia pensar mais no como se.
a gente tem que botar menos ponto final

14.12.06

no bridges left to burn

and so they say
about those
that red their eyes

"they only think
about themselves
and have no respect
for those nearby"

better pretend to be deaf
than to storm the brains out

nightlight
through fingers
enjoy stillness
on the minds

incredible thing
how actually
reality
is a choice

mirror mirror
on the wall

realites can be
so easily replaced
when you cannot
see through lies

am i the only one
who wonders at all?

too late
raise all hell
why?

corte e golpe

a grande via do sentido
tem em seus planos disfarçados

um futuro que não chega a ser
um passado que não existe mais
ao tempo tudo é normal

inúmeros caminhos deixados abertos
com semblante de já traçados

se a vida corre em circulos
eu já não sei
talvez seja em espiral

o melhor ponto de vista é
ser superficie sensível
ignorando o tédio e o óbvio

a resposta escapa num instante só
e ainda assim paga, toda a espera do fotógrafo

11.12.06

feliz natal para todos

O sofá branco sobre o carpete fofo. Uma porta, uma mesa de vidro. Trincos e mais trincos, uma geladeira sem ruído. O chão acolchoado que abafa tudo. Talheres na mesa. Pratos brilhantes na mesa. Tudo parado piscando, parado brilhando, parado - sem parar e, mesmo assim, nada. O lenço bordado da vovó, o jogo americano bordado, não há de que. Mas diga cá comigo: o cheiro morto da cozinha, o mármore na beira da janela, o espelho do banheiro. Sabonetes, perfumes e até florinhas. Um cheiro de talco, uma casa empoeirada. Vamos andando e vendo o chão piscar, as paredes mudando de cor e piscando, o tapete, a geladeira sem graça e a mesa de vidro sem nada, quem sabe algum livro, sem nada, tudo em volta, como sempre, de maneira sem igual, estático, brilhando, escuro, piscando, colorido, piscando, preto e branco. Uma árvore de natal, único ser vivente, ecoa pela casa. E no mais, um relógio que não soa, um mapa amarelo grudado na parede. O sofá branco sobre o carpete fofo. Uma porta, uma mesa de vidro. Trincos e mais trincos, uma geladeira sem ruído. O chão acolchoado que abafa tudo. Talheres na mesa. Pratos brilhantes na mesa e assim por diante sem fim...

10.12.06

não é só a vida que é uma partida... (clique na imagem pr'ela crescer)

9.12.06

las pequeñas

O poeta é só e o poema é dele. Pode-se escrever sobre guerras e amores, coisas do mundo e coisas da vida, ou ambos. A sua visão é grande, mas somente da pequena fração do mundo que observa. Pequenos somos nós, simples mortais, que não conseguimos observar nem o pequeno mundo que nos cerca. Como entender o mundo se não conseguimos sequer nos entender? Primeiro tentemos saber quem somos, depois vasculharemos por entre as vielas e encontremos pessoas tristes e felizes a dizer quem são. Não conseguirão, por mais que tentem e pensem e pensem e falem. Muito é o tempo que utilizamos para pensar coisas grandes, coisas cheias de sentido, porém, é pouco o tempo que utilizamos para abstrair as coisas pequenas da vida. Gosto das coisas pequenas, não por que elas são pequenas, mas porque são as minhas. As minhas são minhas e de mais ninguém. As de ninguém também são minhas, pelo meu dever de ser e de pensar como poeta. Poeta é aquele que coloca as coisas fora do seu lugar, mas com uma harmonia que faz parecer que as coisas estão em ordem. Não estão. Coisas em ordem são trabalhos para acadêmicos eruditos. Como já dizia Manoel de Barros, o bonito é fazer a palavra delirar, a palavra tem é que pegar delírio, como nos lábios de uma criança. EU ESCUTO A COR DOS PASSARINHOS. Eu sou o que vejo.

8.12.06

.Sonho Colorido De Um Pintor.

Sonhei que pintei minhas noites de amarelo,
lindas estrelas no meu céu eu coloquei.
O feio que era feio virou belo,
até o vento do meu mundo perfumei.

Numa apoteose de poesia,
num conjunto de harmonia,
uma lua roxa para iluminar
as águas cor de rosa do meu mar.

O céu eu pintei de verde que serve pra enxugar
lágrimas,
se um dia precisar.
A dor e a tristeza fiz virar felicidade,
aproveitei a tinta que pintei sinceridade.
Pintei de azul o presente, de branco pintei o futuro,
no meu mundo só tem primavera
o amor eu pintei cinza escuro.
Pra lá eu levei a bondade,
dourada é sua cor,
aboli a falsidade,
o meu povo é incolor.

Na entrada do meu mundo tem um letreiro de luz,
meu mundo não é uma esfera,
tem o formato de cruz!


SALVE TOM ZÉ, ALGUÉM SALVE O TOM ZÉ!

6.12.06

entre hegel e caetano

o homem é pedaço
de beira, fôrma
que já o implica
à múltipla identidade
por razão explícita

longe d'águas que torneiam
sabe de um lar de aventuras
porém vai a vida inteira
sem achar o que procura

imagina à erma quietude
a circunstância do cerco
de maneiras incertas
em parábolas difusas

olha para o céu então
como se respostas
ou a quintessência
pudessem proferir
os inertes deuses
de alegada sapiência

nota que outrora
fascinantes gestos
agora ponderam
enigmas delirantes

nega a possibilidade
da ausência
do direito adquirido
diversificando anseios
em desejos incompreendidos

caberá desejar o desejo
sem confinar a idéia
numa impressão?

o que fazer para
que não haja remorso
em qualquer súbita
vontade silenciada então?

o grito em mão fechada
só institui o dilema
entre magia e razão

entregue à impostura
o espelho
como subterfúgio
das mágoas
é denúncia nunca pronunciada
fonte da própria loucura

será que o
faz de conta
condena a realidade
a tentar fazer juízo
de coisas além da
própria envergadura?

2.12.06

29.11.06

Seu silencio me fez som

Não há nada que eu possa fazer
Pra deixar de sentir. (as melodias)
No seu mundo todo, tudo, hoje me espreme!
E fui outra coisa apenas, num feio poema (quando o beijo acabou).
Eu divago num infinito só meu, me perco, e me percorro.
Não quero mais saber de permanecer em versos (os seus).
Só se for no escuro, perplexo pela falta de luz.
Nele, me sinto repleto, completo, de absolutamente nada.
Intrigado pelo vazio que me causa, eu duvido, e me repenso.
Achando que eu que criei o silencio, me discordo. Foi o seu que me fez, num imenso passo pru som.

27.11.06

.Esse cheiro me dá sede!.


potencial
desperdiçado
eu
e todos aqui
aglomerados

pois fique bem
ilustrado
que um ritmo
conivente

volve tudo
igualmente
até sobras
da equação

com porques
ou um senão
em variações
esdrúxulas

o entendimento
empaca nas
mudanças
que assustam

fantasiado
de suposta
decência
o orgulho

quer sim
dizendo que não!

o cansaço
cobre os rastros
conduz o medo
de aprender

inevitável, assim
o prévio descaso

será que

é que se vê?

faço que não faço
disfarço
antes que possam
perceber

26.11.06

Ônibus passam e velhinhas ficam. Todo mundo fazendo sinal e o motorista nem aí, enfiando o pé no acelerador que range. A poeira sobe.
No rio de janeiro as pessoas se olham como em nenhum outro lugar. Quando alguém entra no ônibus todos se viram e pensam “olha esse aí com cabelão”, ou, “quero ver se essa velhinha agüenta dois passos sem que o tranco jogue ela no chão”, e fica torcendo pra que caia, e assim por diante. Agora então, com essa catraca na frente, todos têm bastante tempo pra observar antes que o cobrador libere a roleta. Olhos abertos.
O sol faz dos cariocas fantasmas. Sem conseguir pensar todos vagueiam por Copacabana. "Tudo sob o sol é vaidade e vento que passa". Lençóis brancos dependurados, lençóis que voam. No buzú o sol fica de um lado e os passageiros do outro. Desequilíbrio. No entanto, talvez seja por isso que as pessoas consigam refletir aqui. É só uma curva acentuada que o ônibus vira com certeza.
Sento lá atrás. Adoro ficar no alto, naquele janelão que se abre até o final. Assim me sinto solto. O balanço, a tremedeira me nina enquanto observo tudo o que passa. Tudo uma freqüência enlouquecida, um ruído rosa ou uma interferência perturbadora.
Uma mulher senta. Linda, de vestido vermelho frouxo. Morena típica, braba sorridente. Nossa, as laterais de seus seios. De tarde sempre tenho mais tesão, é gozado isso.
À noite uma mulher passa num ônibus como um flash. Registro na retina. Parece uma marca daquelas que ficam quando olhamos para o sol. Uma ausência. O ônibus passou – eu no bar – ela lá – sumiu – ficou aqui.
Uma pomba preta e branca sobe em direção à luz do poste. Realmente, essa luz amarelada atrai que só.
Venta muito entre o barraco e o mar. Me deixo levar no balanço barulhento. Na curva do barranco o piloto desafia o capitalismo. Alucinado, calor exalado pelo motor. à noite tudo dá voltas. Niemeyer. A tremedeira mexe nos ouvidos. Essa ilusão material, esse cotidiano enfim. Como é bom falar sobre o nada! A rua diz tudo sem saber. Ou será que sabe?
Descubro que o Eclesiastes começa no carnal e terminal na moral. Eu não dou dois passos. Prefiro ficar com o vento, lá atrás do ônibus. E a vaidade, sem querer moralizar, ela me empurra em direção ao topo do vale.
Que curva, que tremor! Os ouvidos coçam. Vejo o ônibus caindo despenhadeiro abaixo. Imaginação.
Não sei como conseguirei entender minha letra do jeito que tá, escrita lá atrás do lotação.
Como é bom falar sobre nada.

25.11.06

borracha aflita

a rua tava entupida de carro a pampa
que ânsia nesse olhar que mira à distância
minhas entranhas têm cheiro de óleo
óleo que permite o amor da máquina
movimento lascivo da engrenagem
enroscar-se todo erótico da máquina
eu só queria deixar de ser engrenagem

a distância dança sobre o asfalto tão quente
passar pela roleta é guerra velada
o ar abafado sufoca a todos
olhares maçados uns dos outros
tanto calor é o fim-da-picada
o trânsito parado sufoca a todos
um barulho seco projeta-se no ar

caralho! o ônibus atropelou o cara
entre horrores e gritos a massa salta
o nada assalta entre horrores e gritos
quase engulo meu chiclete a seco
evito aquela visão tão terrível
agora ele deixou de ser engrenagem
sigo o caminho oposto ao da massa tão sádica

o chiclete já não tinha gosto nenhum
a borracha insossa não tinha sentido
caralho! o cara foi atropelado
retiro ela da boca entre os dedos
encaminho minha mão pra lixeira
a borracha aflita logo gruda em mim
aquela insistência me deixa embaraçado

ela gruda mais na medida em que eu rejeito
a mão já tava toda comprometida
não sabia como me livrar dela
a outra mão tentou intervir
a borracha aflita quis grudar nela
aquela insistência já era ridícula
enfiei a mão no bolso pra disfarçar

em sala de aula

cidadão planetário psicografa lambretas
poesia sem sentido pra matar o tédio de uma aula perdida
a professora e sua compreensão que vão pro beleléu
pelo amor de dios, ninguém aguenta essa mala sem alça
dá vontade de morder
a orelha da minha colega
a carteira ao lado clama
linda mulher em preto e branco
de carne e osso
perfume sinto não
como desejo, como quero
todas elas nuas, minhas
a novidade do sexo
a nova idade sem eixo
menos virtude mais vertigem
escrever e trepar sem parar
tenho duas cabeças pulsantes
que não são apagadores nem giz, mas fúria
de gozo ininterrúpto
um intelecto sexual
a união pela montagem
dois planos em falso raccord
continuidade pelo corte
opacidade que diz sim
negando a transparência dos fracos, pobres de espírito
eu, um desterrado danado sem rumo nem beira
com vontade de viver, viajar
sem volta que dê sentido
quero me sentir vivo
mas não perder pra desmedida
é pra sumir que apareço
é o fim que dá forma à vida
e não o final do plano
que vá à merda o happy-end

22.11.06

(trans)lucidez

a verdade lógica
é somente uma
operação de silogismo?

por força seremos os mesmos
mesmo não seguindo
todos ou precisamente poucos?

gestos muito praticados
acabam por cortar os pulsos
melhor que sejam ressoletrados
antes que a estática torne tudo nulo

melhor fugir do gesso
brincar apenas no seu avesso

o paliativo gosto da madeira
esboça leves sorrisos
mas mesmo o tinto líquido
não permite que se esqueça

entre todos os sins e nãos
que estão aí pra desafiar

a busca incessante
de algo para reassegurar

não que eu queira me expor
mas já dá pra ver o que há

Ontem eu tava arrumando o meu quarto e achei um caderno de anotações muito antigo. Já perdi a noção exata de quando esse carderno é, mas eu devia ter meus 16-17 anos... sei lá. Aí vi essa letra, a última antes d'eu ver que não podia mudar o mundo e senti uma vontade enorme de compartilhar minha nostalgia.



.Idade Mídia.



Idade média da mídia,
mediana cria nossa
na idade das trevas tudo que samba
cai num foça nova.
É o limite da arte,
medíocre síntese da criação,
um feudo a parte
paralelo à imaginação.
Já nascemos rendidos e servos,
no centro do ego cabe o mundo moderno;
que tá dentro da média e não acima
o que sobe a terra puxa.
A média num vai além,
é pé que do chão não se desgruda.

A influência da moda
é cobra foda de esquivar,
o bote é difícil de não levar.
Depois de envenenado
o difícil é se curar,
o veneno é a venda que não deixa enxergar
além da sombra do que é o mundo
e a caverna é o nosso lar.

Daí é que se gera a rebeldia enlatada,
uma revolta comercializada,
fazendo com que chegue ao lugar nenhum
a alternativa tá na moda de um senso comum.
Que tá dentro da média,
sob o controle da mídia,
código de barras de ferro da prisão,
a arte é produzida
com uma fórmula padrão!

laiá laiá laiá la iê...

21.11.06

pra que deixemos de coisa

Tanto quanto o caule
desfralda clichês ao sol

um pé plantado na terra
sustenta o corpo do homem

mas não sustenta sozinho
caminho nem direção

um pé carece de outro
que paire acima do chão

20.11.06

Tédio

Sentimento negativo que tende a alargar o tempo dos minutos, das horas, atingindo até os segundos, em alguns casos. Sente tédio o sujeito, quando percebe que seu tempo está sendo gasto à toa durante um temporário vazio de espírito. Nesse momento, a pessoa nada faz ou faz algo que não lhe alegra nem um pouco. Os sintomas normalmente são o stress, ansiosidade aguda, dor de cabeça, e por vezes uma certa vontade de se suicidar. Ainda há casos em que se recorre ao papel e à caneta como solução. Funciona muito bem.

19.11.06

uma das doideras da lili. ela mete o bichinho na máquina de costura e ele ainda ri um riso mórbido artificial. provavelmente não era pra postar, mas aproveito para divulgar:
Domingo no palácio da república, dia 3 de dezembro
"O Jardim das Delícias"
ela vai se vestir com uma roupa doida cheia de bichos de pelúcia que fazem barulho de forma que quando bater na barriga é um som, quando no cotovelo outro "ah!".

18.11.06

17.11.06

.A Vida.

Se mais uma criança apareceu

e pra felicidade alguém nasceu

eu sinto que a vida éstá mentindo,

pois nunca vi ninguém

nascer sorrindo.

Há aqueles que nascem

porque é preciso,

trazem uma lágirma

ao invés de um sorriso.

Se viver é bom,

como é que a vida diz:

"tens que sofrer pra ser feliz"!?


[Gulherme de Britto e Nélson Cavaquino]
Goiaba(da) paixão

O frio na barriga
Aquele que desce
Quando goiaba sorri
Ainda mais se for pra mim
(é espalhada em melodia).
Eu num sei as palavras
Quais que são
Que disparam pele adentro
Mais som que meu violão
(Permanece pensamento)
Querendo sair de minha boca á sua
num suspiro beijo ..
que eu só queria lhe dizer
não em versos mas em pele
pra arrancar esse frio que escorre
e te mostra a taquicardia quando você me olha, sorri e me engole.

16.11.06

Frase encontrada no 4 andar do IFCS

Era cheio de idéias, mas engoliu o mundo e ficou pesado.

15.11.06

1968

Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.
0 sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições.
Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz.
Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria.
Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.(As vezes por outras coisas também).
É que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até já ganhou uma condecoração.
Resta o catecismo, e nós todos perdidos.
Os inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os previlégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado).
Adormecemos em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e miss-ificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar.
"-Você é compositor de música "jovem" ou de música "Brasileira"?"
A alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade.. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra).
Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.
Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante.
Qual nada. A hipocrisia (é com z?) já havia atingido a indiferença divina da anestesia...
E assistindo a tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinqüente.
Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem.
Providenciem escudos, bandeiras, tranqüilizantes, anti-ácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amem.

TOM ZÉ .

14.11.06

Cabeçapagador
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eu sempre estranho a forma com que minhas meias se enrugam quando taco-as no aquecedor
o homem é um bicho que apodrece mais que qualquer outro
e são lindas as peles das meninas
peles alvas que nem meia em direção ao aquecedor
ninguém escapa do calor da merda
que se expande na lixeira
que pipoca na cara

e quem foi que disse que a morte é fria?
a morte é ferro quente
como cabeçapagador
Poemeto Erótico # 2

Quero morder
Seu pomo de adão,
Como Eva fez,
Morder sem perdão.

Cubo de gelo
Na boca morna
Derrete, escancara
as pétalas rosas.

Te quero forte
Te quero homem
Me jogue e rosne
E me abandone.

.

Não me abandone.

Casal Disfuncional

12.11.06

???

Escrevo como desabafo. Se as palavras têm o poder de mudar o mundo, tenho absoluta convicção de que as minhas não farão senão provocar algum sentimento no coração de quem as lê. Um bom poeta não muda o mundo, mas sim o identifica e desmonta sobre o papel todas as suas certezas sobre ele.A palavra muda conceitos e atitudes de quem as lê. O problema é que quase ninguém o faz. Por isso que afirmo a mais absoluta inutilidade das minhas frases perante o mundo que me afronta. A utilidade do que faço é meramente pessoal. Quem me ler, estará lendo o meu conjunto de idéias, que pode ser refutado ou não. Não quero que me sigam, que gritem meu nome em praça pública, não quero ter 2000 cabeças de gado nem ser advogado de defesa. Não quero ser deputado nem latifundiário, muito menos militar. Não quero o brilho de uma estrela de cinema, muito menos a apatia de um burocrata de Estado. Quero antes o poder das palavras, a serenidade de um poeta, a alegria de um sambista, a tranquilidade do pequeno rio que corta a vila de Pessoa, o beco escondido de Bandeira. Quero os seios da mulher amada, quero a humildade de um cego. "A vida é uma só, não se engane não", já dizia o poetinha. QUERO VIVER, NÃO QUERO SER VIVIDO!!!


derreteu...

Fotofobia


a janela soa sonhos
que ecoam
em alguns cantos

recuam em vento
fazendo
redemoinhos no peito

lugar onde a rima é regra
se aperta cega
é então risco na certa

a cama soa palavras
onde a moça, sua
dança

luz molhada por
entre as persianas
a deixa malhada

sem o blábláblá interminável
fatos se tornam a melhor ficção
o céu até muda sua cor

linhas de raciocínio
erros de continuidade
já chamam atenção
à verdade

antes o verbo
achado facilmente
do que a rima
cinismo
falsa encantação

sinceridade vem a noite
com menos coisas no
campo de visão

11.11.06

Veo lo mejor y siguo lo peor
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Advice For Geraldine On Her Miscellaneous Birthday

Para os que aniversariantes.

Stay in line. stay in step. people
are afraid of someone who is not
in step with them. it makes them
look foolish t' themselves for
being in step. it might even cross their minds that they themselves
are in the wrong step. do not run
nor cross the red line. if you go
too far out in any direction, they
will lose sight of you. they'll feel
threatened. thinking that they are
not a part of something that they
saw go past them, they'll feel
something's going on up there that
they don't know about. revenge
will set in. they will start thinking
of how t' get rid of you. act
mannerly towards them. if you don't,
they will take it personal. as you
come directly in contact face t' face
do not make it a secret of how
much you need them. if they sense
that you have no need for them,
the first thing they will do is
try t' make you need them. if
this doesn't work, they will tell
you of how much they don't need
you. if you do not show any sadness
at a remark such as this, they
will immediately tell other people
of how much they don't need you.
your name will begin t' come up
in circles where people gather
to tell about all the people they
don't need. you will begin t' get
famous this way. this, though, will
only get the people who you don't need
in the first place
all the more madder.
you will become
a whole topic of conversation.
needless t' say, these people
who don't need you will start
hating themselves for needing t' talk
about you. then you yourself will
start hating yourself for causing so
much hate. as you can see, it will
all end in one great gunburst.
never trust a cop in a raincoat.
when asked t' define yourself exactly,
say you are an exact mathematician.
do not say or do anything tha
the who standing in front of you
watching cannot understand, he will
feel you know something he
doesn't. he will react with blinding
speed and write your name down.
talk on his terms. if his terms are old-fashioned an' you've
passed that stage all the more easier
t' get back there. say what he
can understand clearly. say it simple
t' keep your tongue out of your
cheek. after he hears you, he can
label you good or bad. anyone will
do. t' some people, there is only
good an' bad. in any case, it will
make him feel somewhat important.
it is better t' stay away from
these people. be careful of
enthusiasm...it is all temporary
an' don't let it sway you. when asked
if you go t' church, always answer
yes, never look at your shoes. when
asked you you think of gene autrey
singing of hard rains gonna fall say
that nobody can sing it as good as
peter, paul and mary. at the mention
of the president's name, eat a pint of
yogurt an' go t' sleep early...when
asked if you're a communist, sing
america the beautiful in an
italian accent. beat up nearest
street cleaner. if by any
chance you're caught naked in a
parked car, quick turn the radio on
full blast an' pretend
that you're driving. never leave
the house without a jar of peanut
butter. do not wear
matched socks. when asked to do 100
pushups always smoke a pound
of deodorant beforehand.
when asked if you're a capitalist, rip
open your shirt, sing buddy can
you spare a dime with your
right foot forward an' proceed t'
chew up a dollar bill.
do not sign any dotted line. do not
fall in trap of criticizing people
who do nothing else but criticize.
do Not create anything. it will be
misinterpreted. it will not change.it will follow you the
rest of your life. when asked what you
do for a living say you laugh for
a living. be suspicious of people
who say that if you are not nice
t' them, they will commit suicide.
when asked if you care about
the world's problems, look deeply
into the eyes of he that asks
you, he will not ask you again. when
asked if you've spent time in jail,
announce proudly that some of your
best friends've asked you that.
beware of bathroom walls that've not
been written on. when told t' look at
yourself...never look. when asked
t' give your real name...never give it.

- Bob Dylan